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Assim como no Reino Unido, eleições no Brasil podem ser decididas por um sentimento

As eleições no Reino Unido marcaram uma guinada à esquerda com a maior participação dos jovens, arrependidos por permitirem o Brexit em suas próprias abstenções. O sentimento parece provado em números eleitorais;

Jovens até 35 anos participaram 12% a mais em relação à última eleição, com ampla maioria apoiadora de Jeremy Corbin, do Partido Trabalhista. Assim como Lula no Brasil em 2002, Corbin adotou tom moderado e seduziu um amplo espectro da população.

Mesmo sem participação de bandas, seus comícios foram transformados em grandes shows, e os ‘grandes astros’ eram suas ideias e a forma como as destinou. Com direito a furor do público, participação em massa e o sentimento de que as abstenções do Brexit poderiam ser vingadas pela ida às urnas de agora. O arrependimento poderia finalmente ficar no passado.

Toda essa sensação entregou na prática -para Thereza May- uma vitória apertada e carregada de perdas, obrigando-a a pensar em um governo de minoria que sequer conta com as garantias de data. A vitória amarga trouxe a realidade de uma grande faixa da população que trocou a depressão pelas ideias.

Lá, como cá – O Partido Trabalhista conseguiu sair de um período de tormenta que colocava em dúvida sua própria linha existencial. Aqui, o rebaixamento da percepção de distinção ética entre partidos beneficiou diretamente o partido que há mais tempo ocupa os noticiários sobre corrupção.

No Brasil de 2018, uma situação parecida de UK17 pode ser desenhada, guardadas as proporções; Faixas da população, atormentadas por um futuro incerto e, em certa medida arrependidas por embarcarem numa história hoje risível (dos pedidos de Aécio), devem optar por ideias palatáveis dentro de espectros de interesses.

E isso depende exclusivamente da forma como serão apresentadas pelos candidatos, servindo inclusive aos campos completamente opostos um mesmo ponto de partida.

A diferença cabal está nos espectros desses interesses e dos sentimentos. Aos universitários, progressistas do PROUNI ou neoliberais do ensino privado?

Aos aposentados, progressistas dos reajustes programados ou neoliberais das reformas?

Aos trabalhadores do campo, progressistas da agricultura familiar ou neoliberais do agronegócio?

Às mulheres, progressistas da justeza ou neoliberais do mérito?

E assim vai.

 

GM

 

 

Eleições no Reino Unido, o dia em que os jovens mudaram a política

Via El Pais – Pablo Guimón e María Contreras

O líder trabalhista Jeremy Corbyn percorreu o país em 90 eventos de campanha que pareciam shows de rock para conseguir o voto dos mais jovens

Noite de quarta-feira, 7 de junho, véspera do dia da eleição do Reino Unido. Centenas de jovens se reúnem perto de uma igreja em Islington, palco clássico de shows de rock no norte de Londres. Empoleirados nas grades, montados em postes ou em qualquer coisa que os deixe um palmo acima do chão abarrotado de gente, exibem cartazes demonstrando amor por seu ídolo. Uma fileira de policiais com coletes refletivos tenta evitar que a massa invada a rua. As camisetas são mostras de genialidade. Andy, estudante de design de 21 anos, veste uma camiseta preta com o que à primeira vista parece o logo dos pioneiros do rap Run DMC. Só que não é o que parece. As seis letras do nome da banda de Nova York foram substituídas por outras seis: C-o-r-b-y-n.

“Eu não costumava votar. Concluí que qualquer partido que ganhasse, o sistema não ia mudar. A política me interessa, não os partidos. Mas Corbyn é diferente. Você não precisa mais olhar em volta”, explica Andy. Logo a multidão começa a pular e cantar em coro o nome de seu ídolo, com uma melodia roqueira dos White Stripes, enquanto o ônibus que transporta Jeremy Corbyn se dirige ao recinto no qual protagonizará sua última apresentação na turnê.

A realidade estava, efetivamente, ali para quem quisesse vê-la. Jeremy Corbyn rodou o país em 90 eventos de campanha que pareciam concertos de rock. Que a corbynmania é um fenômeno jovem era algo sabido. O que não estava claro era se o segmento demográfico mais abstencionista desta vez iria votar.

Acontece que os jovens, sim, votaram. Não há dados oficiais, mas uma pesquisa de boca de urna indica uma alta de 12 pontos na participação de pessoas com menos de 35 anos em relação às eleições anteriores. Um número recorde de 600.000 pessoas se registraram no último dia possível para votar nestas eleições. Dois de cada três tinham entre 18 e 34 anos.

A participação em 8 de junho atingiu 70%: a mais alta desde 1997. E esse foi o último ano em que os trabalhistas ganharam cadeiras em eleições gerais em relação às anteriores.

Votaram, então, e votaram em Corbyn. Dois terços das pessoas com idade entre 18 e 24 anos demonstraram numa pesquisa preferência pelos trabalhistas, assim como mais da metade das entre 25 e 34. Entre as acima de 55, a vitória dos conservadores foi acachapante.

“O voto jovem é o grande assunto destas eleições”, opina Simon Hix, professor de ciência política da London School of Economics. “A distribuição desigual da riqueza nos últimos tempos beneficiou os mais velhos, e isso gerou um conflito de gerações essencial para entender a política. Acho que os jovens se mobilizaram mais do que em outras ocasiões por três motivos. Um, o magnetismo que mostrou ter o próprio Corbyn como ícone. Dois, o mal-estar com a situação da educação, da saúde e dos serviços públicos, após anos de cortes. E três, o descontentamento com o Brexit, que foi devastador para a geração mais jovem e que foi uma decisão tomada pelos babyboomers e pelos avós.”

James, de 28 anos, funcionário do King’s College de Londres e eleitor trabalhista, concorda com a afirmação de que os jovens tenham participado em massa como reação por sua baixa mobilização na consulta sobre o Brexit. “Acho que muitos dos jovens que não votaram no referendo e que sentiram as consequências de não ter feito isso tentaram se corrigir, comparecendo dessa vez às urnas”, afirma.

As eleições de quarta-feira passaram para a história como aquelas em que a geração mais jovem fez diferença na política britânica. E o improvável catalisador desse fenômeno foi um deputado de 68 anos do qual sempre se disse que estava ancorado numa época passada. Mas sua condição de outsider, forjada em três décadas de dissidência, torna Corbyn um elemento puro, livre dos vícios do establishment.

Sam, estudante de teoria política de 23 anos, é um desses jovens que votaram no Partido Trabalhista. Em sua opinião, o chamado “efeito Corbyn” não se restringe à pessoa, e sim a sua proposta. “Provocou divisões no partido porque o devolveu a suas origens, mais à esquerda”, diz. “Mas acertou ao atenuar suas opiniões pessoais para incluir em seu programa uma representação maior do pensamento trabalhista. Os jovens alargaram sua visão para votar por um programa e por ideias. Não votaram somente numa pessoa.”

VIA EL PAIS – IMG ITM

 

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