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postado em 26/12/2022 03:51
(crédito: Fotos: Wagner Hermusche/Divulgação)
Wagner Hermusche é um dos artistas plásticos que mais expressivamente captou a alma brasileira em uma série de gravuras na década de 1980. Mas, a partir da primeira década do século, em sintonia com os acontecimentos, a arte de Hermusche saltou do lírico para o dramático. Brasília tornou-se palco de uma verdadeira guerra entre corporações e grupos políticos. Agora, ele tem um novo desafio: foi escolhido para construir um memorial às vítimas do amianto, que acaba de ser instalado em uma praça de Osasco, no local onde funcionava a fábrica da Eternit, hoje desativada.
Em 2017, o STF proibiu a fabricação e comercialização de produtos de construção com amianto, por ser cancerígeno. Nessa tragédia do amianto, os trabalhadores se entregaram inocentemente ao trabalho cotidiano, que acreditavam estar garantindo seu sustento e o de suas famílias e, conseqüentemente, suas vidas. Por isso Hermusche concebeu o memorial em forma de árvore-pulmão, uma escultura de ação com mais de seis metros de altura, com 1.600 quilos de aço, uma árvore da vida: “A questão da intoxicação dos trabalhadores pelo amianto é gravíssima. quero fazer algo estático ou mórbido. Fiz uma árvore da vida. É uma gigantesca fibra de aço. O tronco simula a molécula de amianto, a copa e o galho são anéis. É uma metáfora do cosmos”.
A Secretaria do Meio Ambiente e a Secretaria do Trabalho de Osasco limparam a área desativada da fábrica, transformaram-na em um quadrado de 2.000 metros e instalaram a escultura. Ao lado dela, em uma placa de aço, foram inscritos os nomes de mais de 600 vítimas do amianto: “O trabalho é como uma árvore, que te acolhe em sua sombra e te alimenta com seus frutos”, comenta Hermusche. “É o símbolo que representa o suporte da vida. Na verdade, é uma lembrança dos mortos e uma celebração de suas vidas. Os familiares das vítimas ficaram muito emocionados com a inauguração do monumento.”
A escultura foi construída ao longo de 50 dias em um galpão em Taguatinga. Depois, foi para a praça de Osasco. Hermusche colaborou com amigos arquitetos. Virgínia Brochado transformou o desenho em projeto arquitetônico, em formato 3D, com acabamento técnico: “A escultura é uma peça toda em aço, cortada a laser, precisou de tecnologia e bons profissionais de soldagem. Tem uma parte junta, com ferrugem causada por o aço e outra parte pintada. Exigiu um projeto técnico, a escultura tem que ser maciça para não oferecer perigo às pessoas. Tem a forma de um pulmão-árvore”.
ameaças tóxicas
Fernanda Giannasi trabalhou no Ministério do Trabalho por mais de 30 anos, atuando como auditora fiscal. Porém, sob o impacto do envenenamento das vítimas do amianto, decidiu criar, em 1995, a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), para mobilizar os familiares dos trabalhadores, conhecer os efeitos do minério e exigir indenização por danos . “Me deparei com pacientes que não tinham representação. O memorial criado por Hermusche tem função educativa, pois, apesar das fábricas terem sido desativadas, elas deixaram um passivo de doenças e problemas ambientais espalhados pela cidade.”
Giannasi destaca a importância da cidade reconhecer a tragédia ambiental. O memorial resgata principalmente as famílias daqueles que morreram por envenenamento. Isso ajuda a tornar as pessoas mortas mais do que estatísticas. “As empresas já sabiam que o amianto causava danos à saúde. E isso serve de exemplo para outras atividades que utilizam matérias-primas tóxicas e cancerígenas.”
Giannasi destaca as duas maiores ameaças dos efeitos deletérios do amianto: a mineração em Minaçu, na divisa de Goiás com o Tocantins, e o porta-aviões São Paulo. Apesar da atividade de extração de amianto ter sido proibida pelo STF em 2017, a mineração continua sendo produzida em Minaçu, graças à aprovação do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que aprovou uma lei que permite a exploração.” uma ação que pede a declaração de inconstitucionalidade da mineração de amianto, algo que foi decidido pelo próprio STF”, comenta Giannasi. “O porta-aviões São Paulo foi vendido para um empresário na Turquia, houve uma mobilização lá, e o navio teve que voltar para o Brasil. É uma situação dramática, se houver algum problema com o porta-aviões e ele afundar na costa Brasileiro, o amianto vai se espalhar e vai causar um grave problema ambiental. É um exemplo de irresponsabilidade com a saúde pública. O memorial é um alerta para o problema das ameaças do amianto.”
A escultura em construção em um galpão em Taguatinga Foto: Fotos: Wagner Hermusche/Divulgação
Memorial às vítimas do amianto é instalado em praça de Osasco Foto: Wagner Hermusche/Divulgação
Esqueleto da escultura em galpão em Taguatinga Foto: Wagner Hermusche/Divulgação
Vista do Memorial das Vítimas do Amianto, à noite, em Osasco Foto: Wagner Hermusche/Divulgação
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PlanetaOsasco.com – Via observatório CMIO
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