Fiocruz avalia os efeitos da pandemia nos profissionais de saúde
Os trabalhadores da linha de frente de atendimento à covid-19 estão esgotados. E muitos também se sentem inseguros e desvalorizados, de acordo com uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que avaliou as condições de trabalho dos profissionais de saúde, no contexto da pandemia do novo coronavírus.
95% dos entrevistados afirmaram que a tragédia sanitária alterou de modo significativo suas vidas. O que começa pela própria rotina profissional, já que quase metade admitiu jornada excessiva, de mais de 40 horas por semana. E mesmo assim, 45% disseram que precisam atuar em mais de um emprego para conseguir pagar as contas.
Nessa rotina extenuante, em que enfrentam um inimigo tão poderoso, o esgotamento é inevitável, como alerta a coordenadora do estudo Maria Helena Machado
A enfermeira Sirlane Rodrigues dos Santos, que atende pacientes críticos no Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, conta que a situação ficou ainda mais difícil desde que a unidade atingiu sua capacidade máxima, há três semanas. O estado é um dos mais críticos em superlotação hospitalar.
Além dos efeitos sobre a saúde mental, mais de 43% dos entrevistados não se sentem protegidos quando exercem suas funções, principalmente porque 23% deles relatam a falta ou a inadequação do uso dos equipamentos de proteção individual e 64% revelam que precisam improvisar esses equipamentos.
A pesquisa da Fiocruz verificou, ainda, que apenas 25% se sentem mais valorizados hoje do que antes da pandemia, o que não é surpresa já que 40% relataram algum tipo de violência em seu ambiente de trabalho e quase 34% sentem que são discriminados na própria vizinhança, pelo suposto risco de contaminação que representam. O comportamento de muitos brasileiros também contribui para a sensação de desvalorização, de acordo com a coordenadora da pesquisa.
Ainda de acordo com o levantamento da Fiocruz, mais de 90% dos profissionais de saúde afirmaram que as fake news têm sido um verdadeiro obstáculo no combate à doença, e 76% já atenderam pacientes com algum tipo de crença errada sobre a covid, como o uso de medicamentos ineficazes para prevenção e tratamento, por exemplo.
A pesquisa ouviu mais de 15 mil profissionais de todas as categorias vinculadas ao Conselho Nacional de Saúde, que atuam em cerca de 2 mil municípios, em todos os estados do Brasil.