Google lucra com apostas ilegais e desafia leis brasileiras em esquema bilionário

Investigação revela como a gigante de tecnologia monetiza crime digital enquanto ignora acordos com o governo e expõe usuários a fraudes em uma de suas principais plataformas
Enquanto bloqueia criadores de conteúdo por mínimas violações de diretrizes, o Google — através do YouTube — permite ser usado como uma das principais vitrines de cassinos online ilegais no Brasil. Uma apuração da Folha de S.Paulo e confirmada pelo PlanetaOsasco, mostra que ao assistir vídeos sobre apostas, anúncios de operadoras clandestinas são exibidos — mesmo sem licença da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) e constando em listas de bloqueio da Anatel.
A farsa da regulamentação
Sob domínios genéricos e apps com nomes absurdos como “Naftalielijah” e “Ballet Lyn”, essas casas de apostas anunciam livremente usando o sistema de rede de anúncios do Google Ads, sob administração direta do Google Brasil e exibidos no Youtube para públicos direcionados:
- Anúncios ignoram o domínio .bet.br (exigido por lei);
- Oferecem bônus em dinheiro (prática proibida);
- Operam via paraísos fiscais como Curaçao e Hong Kong;
- Dispensam verificação de idade ou identidade, abrindo caminho para lavagem de dinheiro.
- Submetem menores de idade aos riscos de um vício ainda pouco estudado.
Pior: ao clicar nos anúncios, usuários são direcionados a apps de origem obscura, que sequer aparecem nas lojas oficiais. Se há algum controle para combater links fraudulentos, não está funcionando.
Duplo padrão corporativo
O Google afirma remover “violações quando detectadas”, mas:
✔ Nunca divulgou valores arrecadados com esse tipo de publicidade;
✔ Fiscaliza lives independentes informativas enquanto lucra com campanhas que afrontam a legislação;
✔ Ignora exigências legais como o tipo de domínio.
Em declaração à Folha, Giovanni Rocco, secretário da SPA, afirmou que “O YouTube fiscaliza criadores, mas fatura com propaganda de cassinos ilegais”. A plataforma prometeu mudanças após reuniões com o governo, mas os anúncios proliferam — sugerindo cumplicidade por omissão.
O jogo sujo por trás dos algoritmos
A investigação encontrou provas de que:
- Anúncios usam linguagem infantilizada (ex.: “Ganhe R$ 500 rápido!”), atraindo públicos vulneráveis;
- Apps falsificam certificados de segurança e usam o ‘cadeado de SSL’ como prova de segurança;
- Empresas-laranja reassumem contas suspensas em horas.
- O uso do Google Ads parece acontecer livremente, uma vez que ‘Ads‘ permanecem direcionados.
Enquanto pequenos negócios sérios e influenciadores sofrem banimentos abruptos por erros burocráticos, o Google parece tratar anunciantes ilegais como “clientes premium”: seus pagamentos são processados sem maiores questionamentos, e algumas das violações são punidas com meros slaps on the wrist (avisos sem consequências). Fatos bem diferentes do que o Google Brasil pratica com pequenos influenciadores, usuários comuns de plataformas e varejistas nacionais devidamente registrados.
Conclusão: um monopólio acima da lei
A postura do Google escancara um modus operandi perverso:
- Censura o cidadão comum sob alegações de “políticas da comunidade” ou “Termos de Uso”;
- Brandos com criminosos digitais que alimentam seu fluxo de caixa;
- Desafia a soberania nacional ao descumprir normas brasileiras e se esconderem em termos de uso.
Se o governo não agir com multas pesadas e responsabilização criminal, o Google manterá o algoritmo como cúmplice e o contribuinte brasileiro como vítima.
É nesse cenário de aparente permissividade que se desenha o verdadeiro desafio brasileiro: enfrentar não só redes clandestinas de apostas, mas também uma big tech com influência quase total sobre os fluxos de informação e publicidade — que lucra com a ilegalidade e responde com burocracia.
Procuramos o Google Brasil nas últimas semanas, antes da divulgação do conteúdo, mas a resposta tratou meramente sobre os ‘termos de uso‘, com recusa sobre os eventuais desencontros com a legislação brasileira.