Famílias de vítimas de incêndio no Badim apontam descaso após tragédia
aQuase três meses após o incêndio do Hospital Badim, na zona norte do Rio de Janeiro, famílias das vítimas dizem que não receberam a assistência adequada da instituição após a tragédia. De acordo com representantes do hospital, seis acordos de indenização foram fechados e 10 estão em andamento.
“Em alguns casos já houve a conclusão em relação às indenizações. Existe um gabinete específico [de crise, formado após o incêndio] para estudar o que é valor, o que é necessidade, isso tudo está em andamento”, disse o diretor médico do hospital, Fabio Santoro. Segundo ele, o hospital arcou com despesas do funeral e com os custos de transporte e alimentação de parentes de pacientes que sobreviveram e precisaram ser transferidos para outros hospitais.
A tragédia, que ocorreu no dia 12 de setembro deste ano, ainda faz vítimas. No último domingo (1º), morreu a 22ª vítima da tragédia. Algumas das não morreram pelo fogo, mas por complicações da própria doença causadas pela falta de energia provocada pelo incêndio, o que fez com que aparelhos necessários para o tratamento fossem desligados.
O assunto foi tratado na primeira audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Incêndios da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A CPI foi criada para investigar, além do incêndio no Hospital Badim, os que ocorreram no Ninho do Urubu, no Hospital Balbino e no Museu Nacional.
Parentes das vítimas que participaram da audiência relataram casos de descuido do hospital com os pacientes antes mesmo da tragédia e disseram que não receberam assistência da instituição. “Até agor,a não ouvi um pedido de perdão, um lamento pela perda – eu não ouvi de ninguém do hospital, nenhum diretor, ninguém”, lamentou Carlos Outerelo, filho de Berta Gonçalves Barreiro Sousa, de 93 anos, que morreu dentro do hospital. Outerelo disse que, depois de cobrar, recebeu do hospital ressarcimento pelas despesas com o funeral.
“Eu chegava ao hospital e meu irmão estava molhado, com secreção no braço, com pressão alta”, contou Invanil Claudino, irmã de Virgilio Claudino da Silva, de 66 anos, “Eles são negligentes, não têm o menor respeito. Estou até hoje com minha filha doente, que me ajudava a cuidar dele, está com depressão e não consegue se levantar”, disse Invanil.
Os familiares das vítimas disseram ainda que faltaram orientações e informações do hospital após a tragédia.
De acordo com Santoro, a instituição organizou um gabinete de crise e passou a se comunicar com os parentes das vítimas por e-mail e mensagens de WhatsApp. Além disso, o hospital convocou os médicos e distribuiu os profissionais nas casas de saúde para onde os pacientes foram levados após o incêndio. “A situação que ocorreu foi certamente uma catástrofe”, lamentou.
A delegada titular da 18ª Delegacia de Polícia, encarregada das investigações, Carina Bastos, informou que a Polícia Civil do Rio de Janeiro fará nova perícia no hospital. Segundo a delegada, ainda há pontos que precisam ser esclarecidos sobre as causas e o alastramento do fogo e da fumaça no incêndio de 12 de setembro. Ainda não há uma data definida para essa perícia.
“O inquérito está em andamento, as investigações continuam. É um inquérito complexo, que depende de informações técnicas. Chegou o laudo pericial, mas entendi que ainda não é suficiente para chegar à conclusão, preciso de mais informações”, acrescentou Carina.
Segundo a delegada, até o momento, o laudo das investigações indica que o incêndio começou em um dos geradores de energia, que, de acordo com os funcionários, era usado em horários de pico, das 17h30 às 20h, para economizar energia. Carina disse que ainda que havia pendências quanto à autorização para o funcionamento do hospital desde 2017. “Estavam sendo exigidas [pelo Corpo de Bombeiros] novas obras para para regularizar, e isso ficou pendente”, lembrou a delegada.
De acordo com o advogado do Hospital Badim, Bernardo Kaiuca, a instituição tinha licenciamento do Corpo de Bombeiros desde a abertura. “Esse licenciamento não tem prazo de validade”, afirmou.
O diretor-geral de Serviços Técnicos do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, coronel Esteves, informou que a última vistoria foi feita em 2001. Ele explicou que, quando há mudanças no edifício, cabe aos responsáveis buscar novo aval. Segundo representantes do hospital, foram feitas mudanças que não afetaram a segurança.
Sobre o gerador, Kaiuca confirmou que era usado “em determinados horários e determinados dias. No horário do incêndio, estava funcionando.”
De acordo com Kaiuca, o hospital tinha mais de 100 funcionários que foram submetidos a treinamento de brigadistas. No dia do incêndio, estavam no local, 33 funcionários treinados. Ao todo, havia no local 430 pessoas, entre pacientes, visitantes, acompanhantes e funcionários.
Edição: Nádia Franco