Brasil

Coluna – Criação da SAF não garante aos clubes sucesso no futebol

Vou confessar uma coisa: ainda não me convenci de que clubes como Cruzeiro e Botafogo, de tanta história e tradição no futebol brasileiro, precisassem ser vendidos para saírem de um buraco “sem fundo”. E menos ainda que o Vasco, de torcida maior e espalhada pelo país, venha a seguir esse caminho.

Por que, em vez de pensar num investidor estrangeiro disposto a comprá-lo, o clube sequer cogita em transformar sua administração em algo profissional? É evidente que não é algo fácil, mas vejo como algo muito mais positivo do que passar a ser dependente de empresários que terão como objetivo primordial lucrar, para depois pensarem em conquistas.

Exemplo caseiro é o Flamengo. Quando Eduardo Bandeira de Mello assumiu a presidência em 2013, o clube liderava o triste ranking de endividados elaborado pela BDO Consultoria. O valor total era de R$ 741 milhões. Em 2016, quando iniciou seu segundo mandato, e aproveitando a adesão ao Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) criado pelo Governo Federal (Lei 13.155/ 2015), a dívida já tinha sido reduzida para R$ 460 milhões. E ao sair, em 2018, o Flamengo aparecia no ranking em oitavo lugar, com dívida de R$ 365 milhões e faturamento de R$ 543 milhões.

Foram seis anos de austeridade que a administração precisou enfrentar, incluindo críticas ferozes da imprensa e, claro, dos torcedores. Afinal, em seis anos o Flamengo até conquistou uma Copa do Brasil, em 2013, mas ganhou dois Estaduais, como Vasco e Botafogo no mesmo período. No Brasileirão, naquele 2013, ficou a um ponto do rebaixamento, em 16º lugar, mas em 2018 já aparecia como vice-campeão.

O Botafogo, que já foi vendido para o empresário norte-americano John Textor, devia R$ 699 milhões em 2013 e em 2020, quando o último estudo foi publicado, aparecia com uma dívida total de R$ 946 milhões. Não se assuste, pois o Atlético-MG, no mesmo período, passou de R$ 438 milhões para R$ 1,24 bilhão. E o Vasco, que assim como o Atlético pensa em aderir à SAF, saiu de R$ 572 milhões para R$ 831 milhões.

Por que o Flamengo, líder do ranking há 8 anos, deixou todos os outros para trás? A resposta simples é administração consciente, e que hoje em dia, com valores de patrocínios bem maiores, torna a tarefa um pouco menos difícil, desde que haja paciência. Um outro valor estudado pela consultoria é a correlação entre o endividamento líquido e o faturamento. Ele revela a situação caótica de alguns clubes mal dirigidos, sem qualquer cuidado com as finanças no futuro. O Cruzeiro, por exemplo, teve média 7,81, ou seja, a dívida é 7,8 vezes maior que o faturamento. O Botafogo 5,87. O Vasco 4,33. O Flamengo, que em 2020 apareceu com dívida total de R$ 677 milhões, tem índice 1,01. Ou seja, não importa que o valor aumentou, já que a dívida poderia ser toda paga em pouco mais de um ano em razão do alto faturamento.

É preciso coragem. No Chile e na Colômbia há diversos exemplos de clubes que simplesmente se estruturaram financeiramente, mas com resultados esportivos bem distantes do que sonham os torcedores (o chileno Colo-Colo, por exemplo, quase foi rebaixado). Para isso, portanto, não é preciso se vender. Tem de ser criativo, deixar o coração de lado, jogar fora o amadorismo. Cruzeiro e Botafogo já cruzaram a fronteira e agora fico na torcida para estar errado e que eles alcancem os objetivos pretendidos. Que o Vasco perceba, a tempo, que há outra saída.

* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.


Veja na fonte oficial – IMG Autor

Concorra a prêmios surpresas ao fazer parte de nossa newsletter GRATUITA!

Quando você se inscreve na nossa newsletter participa de todos os futuros sorteios (dos mais variados parceiros comerciais) do PlanetaOsasco. Seus dados não serão vendidos para terceiros.

PlanetaOsasco.com

planeta

O PlanetaOsasco existe desde 2008 e é o primeiro portal noticioso da história da cidade. É independente e aceita contribuições dos moradores de Osasco.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo