Símbolos nacionais, feijão e arroz estão sendo menos comprados pelos brasileiros
A dupla mais brasileira que existe está perdendo parte do seu protagonismo, pelo menos dentro de casa. As famílias estão comprando menos arroz e feijão, de acordo com a pesquisa de orçamentos familiares divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE.
No levantamento feito em 2002 e 2003, a quantidade média de arroz adquirida per capita por ano foi de 31,5 quilos. Já na última edição, com dados de 2017 e 2018, não chegou a 20 kg, uma queda de 37%. A média do feijão reduziu ainda mais, de 12 kg para quase 6 kg, 52% a menos.
E esses não foram os únicos produtos típicos da nossa cesta básica que foram desprestigiados. Na mesma comparação, a farinha de mandioca caiu 70%, e a farinha de trigo, 56%. Já o leite passou de quase 44,5 kg para menos de 26 kg.
Mas o pesquisador do IBGE José Mauro de Freitas Júnior ressalta que ainda é cedo para dizer que o brasileiro está de fato comendo menos arroz com feijão, já que ele pode estar colocando ambos no prato quando come em restaurantes. A alimentação fora do domicilio cresceu 9% em 15 anos, representando quase 33% das despesas gerais com alimentação.
Outra redução que certamente será comemorada pelos nutricionistas é a do açúcar, mas com algumas ressalvas. Enquanto a aquisição média de açúcar cristal vem caindo nos últimos 15 anos, com uma diferença de 50% de 2002 e 2003 para 2017 e 2018, o açúcar refinado, por sua vez, teve um aumento de 17% de 2008-2009 para a última edição da pesquisa. Ainda assim, saiu de mais de 5 kg no primeiro levantamento para pouco mais de 3 kg no mais recente.
As carnes de todos os tipos também tiveram redução significativa, com destaque para as bovinas, que chegaram a representar uma aquisição de mais de 17 kg per capita por ano, e agora não passam de 14 kg.
Na casa do ator e visagista Beto Carramanho, muitas dessas reduções são uma realidade. E por causa de uma mudança de hábitos, uma das razões apontadas pelo próprio IBGE para o resultado geral.
Mas os pesquisadores do IBGE ressaltam que no caso da carne, o preço não pode ser ignorado, já que a bovina teve inflação de quase 100% entre 2012 e 2019. Esse fator, inclusive, justifica outras diferenças encontradas ao analisar a tabela de aquisições por faixas salariais.
A aquisição média per capita na classe de maior rendimento supera a média total do país em 15 dos 17 grupos de pesquisa listados, e é mais que o dobro no caso das bebidas e infusões, frutas e dos alimentos preparados e misturas industriais.
As exceções são os grupos dos cereais e leguminosas, liderado pelo arroz e feijão, e das vísceras, tipo de proteína considerada menos nobre e com preço menor. O professor universitário Sérgio Rodrigo Ferreira entende bem essas diferenças. Em um período recente em que precisou se sustentar apenas com a bolsa de doutorado, ele viu sua renda diminuir a um terço, e precisou fazer muitas trocas no carrinho de supermercado.
A pesquisa do IBGE destaca ainda que as trocas são mais necessárias porque as pessoas com menos rendimento precisam comprometer uma parte maior dessa renda com alimentação. Entre as famílias que ganham até dois salário mínimos, 22 % é destinado a comida. Já no topo da pirâmide, entre as famílias com renda superior a R$ 23 mil, mesmo que elas comprem itens mais caros e em maior quantidade, isso compromete apenas 7,6% da renda total.