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Cia Mundu Rodá comemora 20 anos com trajetória que reverencia tradição cultural brasileira

Ponto forte na pesquisa do grupo, a tradição do Cavalo Marinho, da Zona da Mata Norte em Pernambuco, alia música, teatro, dança e poesia. Programação especial gratuita será oferecida online no mês de junho com espetáculos e oficinas

Comemorar 20 anos de trabalho de pesquisa continuada em teatro não é uma tarefa fácil, ainda mais com tantos problemas enfrentados pela área cultural. Fundada por Juliana Pardo e Alício Amaral, a Cia Mundu Rodá estabelece desde o ano 2000 uma ligação intensa com o estado de Pernambuco em uma troca constante com brincadores e mestres de Cavalo Marinho e Maracatu Rural. Há duas décadas se dedica à produção da cena contemporânea em diálogo com as formas e conteúdos das tradições cênicas brasileiras. 

O projeto 20 anos Mundu Rodá apresenta durante o mês de junho as peças Donzela Guerreira e Memórias da Rabeca. Cada uma delas contará com três apresentações e um debate com convidados será realizado após. Onlines e gratuitas, as transmissões serão feitas pela página do facebook e pelo canal do youtube do grupo e retransmitidas pela Oficina Cultural Oswald de Andrade também no facebook e youtube. Além dos espetáculos a Cia ministra, também online, as oficinas: Treinamento de artista-intérprete a partir das danças tradicionais brasileiras e Cantos tradicionais brasileiros – Corpo/Voz/Ritual. As inscrições são gratuitas, mas as vagas são limitadas.


Uma das expressões populares mais importantes do país, reconhecida desde 2014 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN como patrimônio cultural do Brasil, o Cavalo Marinho é uma manifestação cultural brincada na região da Zona da Mata Norte de Pernambuco e na Paraíba, onde predomina a cultura açucareira. Tradicionalmente é celebrada no ciclo natalino e no dia de Santos Reis. Em sua estrutura, a dança, a música e as figuras mascaradas constroem suas narrativas e ecoam histórias e memórias desta região canavieira.Entre os convidados estão o ator e diretor Jesser de Souza, do Lume Teatro de Campinas-SP, a professora Suzi Frankl Sperber, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o mestre Inácio Lucindo, do Cavalo Marinho Estrela do Oriente, de Camutanga-PE, o mestre rabequeiro e luthier Zé de Nininha, de Ferreiros – PE, o músico e professor Luiz Fiaminghi, da Universidade Estadual de Santa Catarina, UDESC, em Florianópolis e o mestre rabequeiro Zé Pereira, de Ariri -SP.

A expressão cultural é apresentada sob a perspectiva histórica dos povos escravizados. “É uma manifestação de resistência, em todos os sentidos – históricos e físicos, de denúncia sobre o trabalho escravo nos canaviais que de certa forma perdura até os dias de hoje na Mata Norte – sobre os seus opressores, e também de libertação através da comicidade”, relata o ator, músico e dançarino Alício Amaral.

O projeto 20 anos Mundu Rodá tem apoio da Oficina Cultural Oswald de Andrade e conta com recursos da Lei de Incentivo à Cultura com patrocínio do Grupo Boticário. É uma realização da Cia Mundu Rodá, da Secretaria Especial de Cultura e do Ministério do Turismo – Governo Federal.

Espetáculos

A peça Donzela Guerreira traz a história de uma jovem que, disfarçada de homem, segue em combate no lugar de seu velho pai, representando o único filho, varão da família. Como soldado, se apaixona por seu capitão e este, por ela. Sem revelar sua identidade, Donzela e Capitão travam suas próprias batalhas, colocando à prova seus princípios, sentimentos e desejos.

Mais do que representar a vida de uma donzela que vai a guerra, o espetáculo reflete sobre gênero e amor, em uma abordagem aberta que convida o espectador a participar ativamente, preenchendo as lacunas e criando sua própria história. A pesquisa para o trabalho foi desenvolvida com base no teatro físico e na dança, com a fusão de técnicas para o trabalho do ator e as danças tradicionais brasileiras em uma fronteira entre dança, teatro, música e tradições populares.

Como mulher, para entrar neste universo da brincadeira, a atriz, pesquisadora e dançarina Juliana Pardo teve que buscar qualidades equivalentes às dos brincadores. “Precisava vibrar na mesma sintonia do brinquedo, onde as qualidades de energia, as ações e os movimentos são de intenso vigor e precisão. Ser mulher numa prática de homens, onde a dança é marcada por pisadas fortes e ligeiras percutidas no chão, foi uma tarefa desafiadora”, revela.

Para Juliana a peça também representa a busca de uma tradução poética do universo feminino da Zona da Mata Norte de Pernambuco. “Escolhi adentrar-me no contexto social que dança tradicional do Cavalo Marinho está inserida, onde a mulher é reduzida ao mundo doméstico, tem um papel de subordinação ao homem. Caminhei por terreno minado, procurei adaptar-me. Aos poucos fui criando um espaço singular dentro deste cenário, sempre com muito respeito aos brincadores e à brincadeira. O que vivi e me envolvi, gravei em meu corpo, signifiquei e re-signifiquei. A experiência é hoje retratada na montagem de Donzela Guerreira.”

Memórias da Rabeca é um espetáculo solo que revela memórias guardadas por sete rabecas. Elas trazem à luz histórias e personagens marginalizados. A luta pela defesa de suas terras delimita a relação entre o ser humano e a natureza.

A montagem é fruto de intensa pesquisa artística realizada através do intercâmbio com rabequeiros da cultura caiçara, quilombola e indígena do litoral paulista, de pesquisa histórica com artistas que marcaram a música e a poesia brasileira neste instrumento e do trabalho de campo continuado sobre os instrumentistas de rabeca do nordeste do país nos estados de Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte.

Na trama, o ator Alício Amaral dialoga com questões emergentes –  como as retiradas das comunidades caiçaras e quilombolas de suas terras para as demarcações de reservas ambientais e o reconhecimento de terras indígenas – que percorrem memórias e sonoridades para convergir em um só tema, nossa identidade cultural.

“Um caminho percorrido em todos os trabalhos da Mundu Rodá é o caminho da experiência. O contato direto com os detentores destas culturas e tradições sempre está presente em minha trajetória. Nas relações, no dia-a-dia, nas pesquisas junto aos mestres rabequeiros, é onde se dá a experiência e os relatos de histórias e vida dessas personagens que estão à margem da sociedade, da mídia e da justiça brasileira”, conta Amaral. Os relatos são combinados com registros históricos de rabequeiros que marcaram a música e a poesia no Brasil, como Cego Oliveira, Cego Aderaldo, Cego Sinfrônio, o poeta Fabião das Queimadas, Vilemão Trindade, entre outros. “Desta forma podemos traçar uma dramaturgia viva, presente no nosso tempo, que referencia o passado e vislumbra o que está por vir”, completa. 

Oficinas

A oficina Treinamento de artista-intérprete a partir das danças tradicionais brasileiras é um trabalho reflexivo sobre diferentes elementos e qualidades que constituem algumas manifestações populares brasileiras como o Cavalo Marinho e o Maracatu Rural. Seu foco está em alguns elementos como corpo-voz-ritmo, ancestralidade, rito e resistência.

Cantos tradicionais brasileiros – Corpo/Voz/Ritual aborda a pesquisa e elaboração de estruturas e sensibilização musical. Estuda canções tradicionais, improvisação de versos, estudos rítmicos, ressonadores vocais e a relação corpo-música-espaço-rito.

Ambas as oficinas têm a duração de nove horas e são divididas em três encontros. São disponibilizadas 30 vagas para cada uma delas e as inscrições são realizadas online nos endereços: http://bit.ly/dancastradicionais e http://bit.ly/cantostradicionais

Texto Elcio Silva
Imagens Divulgação

Mais Informações

20 anos Mundu Rodá

Oficina Treinamento de artista-intérprete a partir das danças tradicionais brasileiras

Quando: De 7 a 9 de junho (segunda, terça e quarta) das 19h às 22h
Inscrições online: De 15 de maio a 2 de junho

Onde: http://bit.ly/dancastradicionais 

30 vagas

 

Espetáculo Donzela Guerreira

Quando: 10, 11 e 12 de junho (quinta, sexta e sábado) às 20h

Seguido de bate-papo com convidados

Duração: 60 minutos

Classificação etária: 12 anos

 

Oficina Cantos tradicionais brasileiros – Corpo/Voz/Ritual

Quando: De 14 a 16 de junho (segunda, terça e quarta) das 19h às 22h

Inscrições online: De 15 de maio a 8 de junho

Onde: http://bit.ly/cantostradicionais 

30 vagas

 

Espetáculo Memórias da Rabeca

Quando: 17, 18 e 19 de junho (quinta, sexta e sábado) às 20h

Seguido de bate-papo com convidados

Duração: 75 minutos

Classificação etária: Livre

 

Todas as apresentações são gratuitas e online. As transmissões, com tradução em libras,  serão feitas pela página da Cia Mundu Rodá no Facebook (www.fb.com/munduroda) e no canal do Youtube (www.youtube.com/munduroda). Serão retransmitidas pela Oficina Cultural Oswald de Andrade também no facebook e youtube.

 www.munduroda.com

 

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