FORÇA CHAPE.
DA TRAGÉDIA, DA COLÔMBIA, DO BRASIL E DA GENEROSIDADE…
É sábado pela manhã, estou em casa assistindo a cerimônia em homenagem aos jogadores do Chapecoense. São cenas lindas, fortes e únicas. Que nos fazem chorar sem perceber, ficar com o coração apertado como ficamos quando encontramos a pessoa amada, acreditar em um mundo melhor, mais solidário e mais justo. A frase que toma conta de todos nós e do mundo todo é Força Chape.
Chove muito em Chapecó. Os índios diziam que a chuva traz felicidade e esperança. Como acabou de dizer um narrador na teve: “Talvez a chuva de hoje seja uma homenagem, uma dança ou uma mùsica de Deus para os meninos que voltam para casa…”
As imagens mostram todos unidos. Absolutamente iguais. Dentro e fora do estádio. Hoje, não há ricos e pobres, há apenas pessoas que querem apenas demonstrar seu sentimento. São mulheres, crianças, homens, jovens, velhos, brancos, negros e índios. Até porque, o símbolo do time é um índio, o cacique Vitorino, da Aldeia Condá, que lutou muito contra a opressão portuguesa e para que seu povo tivesse direito à terra.
Desde novo, sonho com um Brasil justo, sem miséria, com mais igualdade. E, sinceramente, sei o que essa dor representa. Afinal, perdi minha única filha Ana Luiza quando estava prestes a completar quatorze anos. Depois disso, a gente não sabe o que fazer com a vida. Mas é preciso prosseguir, como se tudo fosse capaz de nos tornar mais fortes.
Nossos governantes poderiam tirar desse momento algumas lições: não misturar o público com o privado, pensar no povo antes de pensar nas eleições, saber que a riqueza se dá pelas atitudes e não pelo acúmulo do dinheiro, saber que os acordos políticos devem – sempre – seguir nossos princípios de vida. O Brasil tem muitos problemas. Alguns são recorrentes, outros são fruto da irresponsabilidade de muitos governos.
Em Pernambuco, 73% das crianças com microcefalia são de famílias de baixa renda e 53% moram no interior do estado. Quase todos os prefeitos que não venceram as eleições cortaram o transporte dessas famílias para tratamentos com médicos e fisioterapeutas, assim a mães não podem mais levar suas crianças para acompanhamento médico semanal. Força Pernambuco.
No Rio de Janeiro, o grupo político do PMDB que dirige o estado há quase doze anos, se uniu aos piores para se manter no poder e sonhou alto. Hoje, o Rio tem um governo sitiado, sem saída, que quer punir o povo por tudo de errado que fez. Só pensou em eleição. Força Rio.
Em São Paulo, um grande acordo político transformou o governador em um personagem poderoso. Mas a educação e a saúde continuam horríveis, e a miséria persiste. E o governo estadual estabelece outros princípios de vida política que são antagônicos aos princípios de vida das pessoas. Força São Paulo.
Em Osasco, muitos políticos – com mandato e sem mandato – dizem publicamente acreditar que o novo prefeito dará certo. Mas nos bastidores revelam a verdade, não apostam um real no sucesso do novo governo, que vai começar dia 01 de janeiro de 2017. Força Osasco.
Enquanto isso, o povo assiste pela tevê uma grande demonstração de unidade da cidade de Chapecó diante de uma tragédia. É essa unidade generosa que nosso povo sonha para superar seus dramas seculares. Fazendo com que os de baixo, como diziam Darcy Ribeiro, Milton Santos e Florestan Fernandes, transformem a dura realidade do Brasil, que exclui, discrimina e oprime sempre. Força povo brasileiro.
Marco Aurélio Rodrigues Freitas é jornalista e professor das redes municipal de estadual de São Paulo. Escreve todas as semanas no site Planeta Osasco.