CRÔNICA DO PROFESSOR MARCO AURÉLIO
Feliz natal a todos. Para Isaura e Ana também.
Domingo é natal. Feliz natal a todos que leem o Planeta e para aqueles que não leem também. Deixo aqui duas frases com a intensão de reproduzir o sentimento de esperança e generosidade que toma conta de todos nessa época. A primeira é do nosso maior poeta: Carlos Drummond de Andrade.
Drummond teve uma única filha, Maria Julieta. Se escreviam muito e se amavam muito. Ambos eram escritores. Também tive uma filha, Ana Luiza, que adorava tudo que representasse um desafio. E nós, também, nos amávamos muito.
Ana, aos seis anos de idade, já alfabetizada, decidiu por conta própria, sem que os pais soubessem, ensinar Isaura a ler. Isaura é minha auxiliar há quase 30 anos. Muitos chamam esse tipo de emprego de empregada doméstica. Eu a chamo de parceira, companheira de todas as horas. Isaura viu minha filha nascer, cuidou de meus pais como se fossem seus e hoje cuida de mim e de minha irmã mais velha, que faz tratamento de saúde em São Paulo.
E como Ana Luiza alfabetizou Isaura, analfabeta absoluta aos quase quarenta anos? Minha filha fazia suas lições e criava outra para Isaura. Fazia ela escrever e repetir em voz alta o que tinha escrito. Ao andarem pela rua, Ana mostrava para Isaura placas e cartazes e pedia para Isaura ler em voz alta. Depois de algum tempo, Isaura já lia sem precisar de ajuda e respondia à pergunta: você está entendendo de verdade o que está lendo? Respondia Isaura:
— sim, eu já consigo ler e entender o que leio. E já consigo escrever o que leio.
Esse caminho de alfabetização é absolutamente construtivista, nos remete a Paulo Freire e Emília Ferrero. Foi assim que minha filha aprendeu a ler nas EMEIS de Osasco e assim que ela alfabetizou Isaura, vista por muitos como alguém que não aprenderia ler jamais.
A vida é assim. Existem muitos caminhos para vencermos desafios. Eu, amigos e muitos que eu nem conheço já vencemos nossos desafios e encontramos caminhos cheios de esperança. Nossa cidade, neste final de 2016, também procura um caminho para se orgulhar, para dar orgulho ao seu povo. Os errados precisam saber que a lei é feita para todos. Esse é o princípio básico da sociedade contemporânea, que nasceu com a Revolução Francesa e evoluindo, permanece vivíssimo entre nós, no século XXI. Encerro com Fernando Sabino…
MARCO AURÉLIO RODRIGUES FREITAS é jornalista, historiador e professor das redes municipal e estadual de São Paulo. Escreve suas crônicas todas as semanas no Planeta Osasco.