Mesmo depois de mais de três décadas sem Elis Regina, muitos brasileiros ainda a consideram a maior cantora da história da Música Popular Brasileira, tanto que sua filha Maria Rita, em seus primeiros Cds gravou muitas de suas músicas, resgatando canções de Milton Nascimento, João Bosco e Aldir Blanc e Belchior, entre outros.
No dia 19 de janeiro de 2017, quinta-feira, o Brasil fez 35 anos sem Elis Regina, que nos deixou em 19 de janeiro de 1982. Nesse período, muitos biógrafos contaram sua história. Revelando um tipo de artista corajosa, crítica da Ditadura Militar e defensora dos compositores e cantores brasileiros. A primeira foi a jornalista Regina Echeverria, que lançou o livro Furacão Elis em 1985.
Nos anos de Chumbo, Elis criticou muito a Ditadura Militar e muitos acreditam que a sua popularidade a manteve fora da prisão, mas por exigência dos generais, foi obrigada a cantar o Hino Nacional no show da Olimpíadas do Exército em 1972.
Apelidada de Pimentinha por Vinicius de Moraes, por causa de seu temperamento, a engajada Elis lançou e turbinou artistas, era uma incansável caçadora de talentos. Entre eles, estão: Ivan Lins (“Madalena”, “Cartomante”, “Aos Nossos filhos”), João Bosco (“Bala com Bala”, “O Mestre Sala dos Mares”, “Dois pra Lá, Dois pra Cá”, “O Bêbado e a Equilibrista”), Gilberto Gil (“Ensaio Geral”, “Roda”, “Lunik 9”), Milton Nascimento (“Canção do Sal”, “Morro Velho”, “Cais”, “Nada Será Como Antes”), Belchior (“Como Nossos Pais”), Fagner (“Mucuripe”), Gonzaguinha (“Redescobrir”), Renato Teixeira (“Romaria”) e outros.
A música “O Bêbado e a Equilibrista” virou o hino pela anistia e contra a mal-intencionada Ditadura Militar e seu álbum “Falso Brilhante” de 1976, apresentado em forma de show no Teatro Bandeirantes atingiu 1200 apresentações, sem esquecer das críticas ao Regime Militar. O mesmo palco do seu velório em 1982, onde milhares de pessoas foram se despedir.
Neste 2017, um ano difícil para todos nós, com um governo usurpador e conservador que quer destruir nossa Constituição, retirando direitos e conquistas, em nome de uma falsa reconstrução nacional, Elis faz muita falta, mas podemos dizer que o furacão Elis nos deixou, mas não foi embora de nossos corações e mentes.
Em homenagem à Elis Regina e a todos que repudiam até hoje a Ditadura Militar, reproduzimos aqui a música e a letra de “O Bêbado e a Equilibrista”. Leitor do Planeta Osasco, curta a música e a letra desse hino pela liberdade.
O Bêbado e a Equilibrista
João Bosco e Aldir Blanc
Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos
A lua tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Meu Brasil!
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora
A nossa Pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses
No solo do Brasil
Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha
Pode se machucar
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar.
Marco Aurélio Rodrigues Freitas é jornalista, historiador e professor das redes municipal e estadual de São Paulo. Escreve todas as semanas no site Planeta Osasco.