Opinião do professor Marco Aurélio – Quando eu era pré-adolescente em 1969, Jorge Ben cantava nas rádios do Brasil: “Moro num país tropical, abençoado por Deus/E bonito por natureza (mas que beleza) /Em fevereiro (em fevereiro) /Tem carnaval (tem carnaval) /Eu tenho um fusca e um violão/Sou Flamengo/Tenho uma nêga/ Chamada Tereza”. Era fevereiro, mês do carnaval.
Mas em março, o que a gente via era os Anos de Chumbo da Ditadura, e a música que vem na minha memória é a do Geraldo Vandré: “Pelos campos há fome em grandes plantações/Pelas ruas marchando indecisos cordões/Ainda fazem da flor seu mais forte refrão/E acreditam nas flores vencendo o canhão/Vem, vamos embora, que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Esse é meu pais. Estamos em pleno carnaval de 2017. Dezenas de blocos em São Paulo, que cresceram muito, estimulados pelo ex-prefeito Haddad. Escolas de Samba, que imitam tão bem o Rio de Janeiro, que parecem estar até melhores. Ontem vi a Rosas de Ouro desfilar a gastronomia e promover um casamento de verdade na avenida. Antes, vi a Dragões da Real homenageando o povo nordestino que vive aqui. Sem esquecer o carnaval da Bahia.
A nossa festa popular – provavelmente a maior do mundo – acaba dia 28 de fevereiro. Nesses quatro dias, todo mundo se junta, esquece as diferenças e se transforma. Canta, dança e namora muito. O estranho é que tem prefeito, como o de São Paulo que aproveita o momento para falar em privatização. Diz que vai privatizar o Sambódromo de São Paulo, pensando e construido pela Luiza Erundina, que se inspirou na ideia de Darci Ribeiro e Brizola quando governava o Rio. Doria não tem noção.
Sinceramente, tenho pena do Doria. Ele é incapaz de compreender a cultura popular. Faz cara de inteligente, mas não é. Poderia ler Antonio Candido e perceber que o prefeito deve respeitar todos na cidade e nunca achar que é dono dela. O tempo de um prefeito tem hora para acabar, graças a Deus; dura quatro anos.
Mas março promete. Greve dos professores dia 08. Greve Geral em todo o país dia 15. As duas manifestações vão ocorrer para defender os trabalhadores contra as reformas do famigerado governo Temer. Temer quer voltar aos anos 80, esquece que o país mudou para melhor e que as pessoas conhecem mais e melhor seus direitos. Em Osasco, as coisas não são muito diferentes também.
Mas é carnaval. O melhor é pular, cantar e dançar até terça-feira. Porque quarta é primeiro de março, e março promete.
Marco Aurélio Rodrigues Freitas é jornalista, historiador e professor das redes municipal e estadual de São Paulo. Escreve todas as semanas no site Planeta Osasco.