OPINIÃO DO PROFESSOR MARCO AURÉLIO – Segunda-feira, a Globo encerrou sua minissérie que mostra uma época que acreditávamos estar superada, a era da Ditadura Militar no Brasil. “Os Dias Eram Assim” nos fazem também pensar como Os Dias São Assim”. De uma história inicialmente política, com tema de Ivan Lins, a minissérie termina como uma estória romântica com pitadas de argumentos psicanalíticos, refletidos nos dramas familiares e no casal romântico da série.
Mas, a minissérie traz também um debate importantíssimo para os dias de hoje: a questão da AIDS. Que nos anos 80 era tida como uma epidemia apenas de homossexuais e que depois foi entendida como uma doença de todos. Hoje, para uma geração que não viu seus ídolos morrerem de AIDS, a doença ainda preocupa, mas bem menos. Entretanto, cerca de 830 mil pessoas vivem infectadas no Brasil e 15 mil morrem por ano, segundo a UNAids – programa da ONU. São cinco novos casos por dia no país.
Os dias eram assim: intolerância ideológica, censura nos jornais e na vida cotidiana; manobras na política e nas relações humanas; mortes; torturas; exílios; músicas de protesto como as da MPB; anistia nos anos 70; luta por eleições diretas dos anos 80 do século passado; e a epidemia da AIDS ficam em segundo plano, diante do romantismo atemporal, que o público gosta tanto.
Hoje, os dias são assim: intolerância ideológica; censura e preconceito nas mídias e em nossas vidas; manobras entre o capital e a política partidária de todos os partidos com empresários; massacres e torturas midiáticas; escolhas de políticos que se dizem não políticos e acreditam poder enganar o povo; manifestações artísticas de protesto contra uma elite saudosa da agenda econômica neoliberal da Ditatura Militar dos anos 60 e 70.
Depois de quase trinta anos da Constituinte, posso dizer que há dois tipos de povo no Brasil, o das ruas e o das tevês (que gosta mais dos dramas de amor, provavelmente para esquecer os muitos problemas do Brasil e ter forças para enfrentar as notícias do dia seguinte). Mas todos sabem que o público que sai nas ruas é diferente do público que fica na frente da televisão.
Sábado, na pretensa reinauguração do Largo da Batata, João Dória foi vaiado pelo povo das ruas, quando discursou para um pequeno público escolhido a dedo. O prefeito que fingiu reinaugurar o Largo da Batata (quando na verdade foram plantadas apenas umas poucas arvores na praça pensada e planejada pelo ex-prefeito Gilberto Kassab), fez um discurso antigo, falando em patriotismo e cores da bandeira nacional e criticando o PT. Gastou quase todo o seu tempo falando do PT. Seus ouvintes eram brancos e burgueses. O povo das ruas percebendo a malandragem, vaiou a fala, pois sabe que para melhorar o Brasil é preciso incluir e não excluir as pessoas, do que ficar no clima do Ame-o ou deixe-o.
Mas como a vida é dinâmica, os dias de hoje em Osasco são assim: a prefeitura rebola para pagar suas contas, diante da queda do orçamento e promete – mesmo sabendo que não vai poder cumprir – aumentar o orçamento da Secretaria de Cultura da Cidade; faz um concurso público só para 2018 e deixa as pessoas ansiosas pelo resultado; vê sua popularidade derreter, fala-se em 70% de reprovação nos dias de hoje; e, por fim, finge esquecer que a Justiça mandou reduzir a tarifa do ônibus, que continua em 4,20, pois as empresas de transporte coletivo da cidade não olham para o passageiro, olham apenas para suas contas corrente.
Por isso, como Ivan Lins, peço perdão. Mas, por tudo, Diretas Já.
Aos Nossos Filhos
Ivan Lins
Perdoem a cara amarrada
Perdoem a falta de abraço
Perdoem a falta de espaço
Os dias eram assim
Perdoem por tantos perigos
Perdoem a falta de abrigo
Perdoem a falta de amigos
Os dias eram assim
Perdoem a falta de folhas
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha
Os dias eram assim
E quando passarem a limpo
E quando cortarem os laços
E quando soltarem os cintos
Façam a festa por mim
Quando largarem a mágoa
Quando lavarem a alma
Quando lavarem a água
Lavem os olhos por mim
Quando brotarem as flores
Quando crescerem as matas
Quando colherem os frutos
Digam o gosto pra mim