Meirelles poderá se tornar homem mais forte do Brasil
Meirelles construiu sua fama em um período de bonança, com o boom das commodities do primeiro governo Lula, estava no lugar certo na hora certa
A NOVA EQUIPE ECONÔMICA – Segundo as informações que circulam pelos meios econômicos, o novo Ministro da Fazenda Henrique Meirelles condicionou sua aceitação no cargo à prerrogativa de indicar todos os postos chave do Ministério da Fazenda mas também os dirigentes do Banco Central, do Banco do Brasil, do BNDES, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Nordeste e do Banco da Amazônia.
É um arranjo que dá ao novo Ministro um grande poder que pode servir para muita coisa no campo da política pura à margem da função de gerir a economia, inclusive a construção de uma base de capital político pessoal que permitirá ao titular da Fazenda ser o candidato mais forte à Presidência da Republica em 2018.
Contando os cargos no Ministério e no bancos serão mais de 70 pessoas a nomear, todas para cargos altos de grande poder e relevância. Nem Delfim Neto no auge de seu mandarinato teve tal poder concentrado. As indicações delfinianas tinham que passar pelo crivo militar e Delfim não indicava diretores do BNDES, o mais poderoso dos bancos públicos em termos de força politica.
Curiosamente no Governo Vargas de 1950 essa montagem foi colocada na mesa do Presidente Getúlio pelo então nomeado Ministro da Fazenda Oswaldo Aranha, que tinha ambição longamente conhecida de ser candidato à presidência na sucessão de Getulio. Na época não havia Banco Central e o grande instrumento de poder era o Banco do Brasil.
Aranha insistiu em ter a prerrogativa de indicar o presidente do BB, mas Getúlio sentiu o cheiro de queimado, então entrou na conversa, nomeou para o Banco do Brasil o General Anapio Gomes, inimigo de Oswaldo Aranha e amigo pessoal de Vargas.
Anapio Gomes conta essa história em seu livro de memorias “Radiografia do Brasil”. Getúlio antes já fizera coisa semelhante.
No BNDE (hoje BNDES), que estava sendo criado, Aranha indicou Roberto Campos, mas Vargas cercou-o, indicando J. Maciel Filho, de sua estrita confiança, para Superintendente.
Nomeado Ministro da Fazenda Horácio Lafer, o homem da FIESP, Vargas colocou no Banco do Brasil Ricardo Jafet, inimigo de Lafer.
Ministério da Fazenda mais bancos públicos fará de Meirelles o homem mais poderoso do Brasil e candidato inafastável à Presidência. Valerá o preço? Meirelles construiu sua fama em um período de bonança, com o boom das commodities do primeiro governo Lula, estava no lugar certo na hora certa, não se conhece todavia sua capacidade de formulador de politica econômica fora da cartilha do catecismo ortodoxo do mercado financeiro.
O ajuste fiscal é necessário, o governo desperdiça muito em gastos correntes, além dos l05 mil cargos comissionados, há imensa quantidade de contratos de terceirização de mão de obra e um descontrolado sistema de aluguel de prédios, que não tem uma central de gerenciamento.
Os ministérios podem alugar prédios desproporcionais às suas necessidades e em lugares caríssimos. Na curta gestão George Hilton no Ministério do Esporte alugou-se suntuoso prédio quando o anterior mais modesto estava perfeitamente adequado. Há uma obsessão na administração pública por prédios suntuosos, tanto de construção própria como alugados, tendo a União muito espaço disponível e de graça, tudo sem um banco de espaços e um centro de monitoramento para evitar desperdícios evidentes.
Mas o cortes de despesas, por mais necessário que seja, não vai parar a recessão. Será preciso ao mesmo tempo um programa rápido de investimentos publicos para puxar a economia, não há pressão de demanda de maneira que o investimento publico não será inflacionário.
Por que os juros SELIC que são a referencia dos títulos federais precisam ser altos? Por que se não forem o aplicador não compra? É falso. Os títulos públicos são o ÚNICO lastro para a aplicação dos depósitos à vista dos bancos, não há nenhum outro tipo de aplicação disponível no volume e liquidez dos títulos federais. Os bancos, fundos, seguradoras e tesourarias de grandes empresas comprarão os títulos federais com qualquer taxa de juros, assim é no mundo inteiro, não é uma aplicação voluntaria, é necessária, não há outra igual.
A taxa pode ser metade da atual, economiza-se ai 300 bilhões de Reais, o BC deve cessar a intervenção no mercado de câmbio que custou em 2015 a absurda quantia de 125 bilhões de Reais em prejuízos nos swaps cambiais. Tudo para manter o dólar baixo, quando para a economia é melhor a desvalorização do Real.
Investimentos públicos tem desembolsos parcelados ao longo do tempo, não se gasta tudo à vista, há amplo espaço para manejar esse programa. Pode-se criar um papel especial para pagar as empreiteiras, Juscelino Kubitschek fez isso (Obrigações do Reaparelhamento Econômico). É preciso criatividade, investimento não é despesa, é criação de ativos.
As concessões e as PPP (parcerias público-privadas) vão também ajudar a criar empregos, mas não serão suficientes. Será preciso investimento público direto em saneamento básico, moradias, policiamento de fronteiras, aeroportos regionais, mobilidade urbana, manutenção e reforma de rodovias que não serão concessionadas, reforma de hospitais e escolas em deterioração.
A equipe típica de Meirelles será exclusivamente vinculada ao mercado financeiro, sem qualquer olhar para o desenvolvimento, é uma escola monotrilho, precisamos escolas combinadas que pensam em dois trilhos.
Dado a ele o controle da Fazenda, da Previdência, do Banco Central, do BNDES, da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, o Presidente Temer cedeu 60% do Governo à ele, um personagem por demais ligado aos EUA em sua biografia, algo um tanto complicado para um potencial candidato a Presidência.
A ver o desenrolar desse enredo.
André Araujo – Via GGN