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Armadilha que Haddad caiu pode custar 2030

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ter caído em uma armadilha previsível: muito além dos memes de ‘Taxad’, a decisão de aumentar a taxação sobre compras internacionais de até US$50,00, popularmente conhecida como a ‘taxa das blusinhas’, foi uma tentativa equivocada de ajudar o combalido varejo nacional. Contudo, a medida pode ter consequências desastrosas tanto para ele quanto para os consumidores brasileiros.

Na escolha entre os brasileiros que compravam itens de baixo custo do exterior ou em proteger os grandes varejistas nacionais, Haddad optou pelos bilionários. Sua justificativa foi de que a medida ajudaria a evitar fraudes, aumentar a arrecadação e manter empregos; por óbvio salvar empresas de varejo que estão à beira da bancarrota, como Via (Casas Bahia), Americanas, Magalu e Marisa e outras. No entanto, essa estratégia de proteção parece ser um enorme erro e nem empregos gerará.

Analistas já perceberam o movimento que o varejo nacional passa. Há indícios de que estamos num período semelhante ao ocorrido entre 1995 e 2005, quando diversas empresas aparentemente sólidas desmoronaram, incluindo Mappin, Mesbla, Casa & Vídeo, Arapuã e G. Aronson, entre outras.

Na década atual, marcada por turbulências no varejo, já perdemos Ricardo Eletro, ETNA, Wal-Mart e Extra Hipermercados. Capengando ou caindo pelos cantos, temos Americanas, Magazine Luiza, Casas Bahia, Ponto Frio e GPA. São empresas com operações muito pesadas para um faturamento decrescente.

É razoável pensar que, na tese de Haddad, o governo deveria taxar os atacarejos por desmoronarem os hipermercados.

Os resultados da escolha do ministro são prejudiciais para todos os envolvidos. Primeiramente, a medida provavelmente não salvará o ‘varejo nacional’, que continua perdendo terreno para empresas de tecnologia que se apresentam como ‘varejistas’, como Mercado Livre e Amazon.

O Mercado Livre, de origem argentina, é uma fintech que começou como um marketplace e agora opera com tecnologias avançadas, englobando serviços financeiros e bulk data. Já a Amazon, gigante norte-americana, tem uma operação complexa no Brasil, avançando lentamente, mas com solidez, utilizando sua vasta experiência em tecnologia e capital. Além disso, a Amazon Web Services (AWS) representa uma parcela significativa de seu negócio, capaz de sustentar a empresa mesmo sem as vendas de varejo.

Tais empresas operam em uma relação umbilical com outras do setor de tecnologia, tal como o Google e a Meta. Nessas redes de publicidade, em especial o Google, existe pouca ou nenhuma transparência sobre descontos em volumes, criando condições para que exista um massacre contra varejistas menores. O problema se extende tanto que atinge até mesmo a transparência na relação entre serviços prestados e cobrados, como Google Merchant Center (o Google Shopping), que cancela repetidamente as contas de varejistas menores mas nunca o faz em relação aos grandes players.

Na lógica de Haddad, o Google e outras empresas de tecnologia não têm relação com o varejo. Na lógica do mercado, o Google é fiador de quem vai ter sucesso ou de quem vai falir.

Assim, Haddad criou um protecionismo que, em teoria, deveria impedir a falência dos grandes varejistas nacionais, evitar o desemprego e aumentar a arrecadação. No entanto, os efeitos da ‘Taxa das Blusinhas’ não garantirão a proteção dos empregos, que continuarão migrando do varejo tradicional para as empresas de tecnologia. Sem uma pesquisa detalhada, é plausível afirmar que perderemos centenas de empregos no varejo para cada vaga única criada nas empresas de tecnologia. Fato que ocorre em quase todo o ‘Ocidente’.

A medida de Haddad também resultará em preços mais altos para o consumidor final, principalmente para a classe média e média baixa. Além disso, deu falsas esperanças a bilionários, incentivando-os a insistirem em negócios obsoletos e minando as economias de pequenos investidores desavisados. Em última análise, essa decisão pode ter arruinado a imagem do ministro, que anseia um dia se tornar presidente. Sua mácula: o homem das taxas, assim como injustamente Marta em 2004 com a taxa do lixo.

Seu fã-clube, alegando que os memes das taxas não acertaram o alvo, ignorou solenemente que é sobre Lula que recai o peso. A armadilha na qual Haddad caiu é típica de quem não se atualizou, que ainda pensa no varejo como era nos anos 80 e 90. O ministro, que até fala do balcão que frequentou no passado e com orgulho, agora paga o preço por ajudar figuras como Luiza Trajano, a Família Klein, Luciano Hang, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

Esse apoio cego e inútil a empresários escolhidos pode custar caro. O presidente Lula, que colocou Haddad nessa posição, também tem sua parcela de responsabilidade. O ministro não deveria intervir onde não tem a menor ideia da realidade.

Por Gabriel Martiniano

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Gabriel Martiniano

Jornalista profissional, fundador da Ticketbras e cidadão de Osasco

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