Coluna – A polêmica decisão de um título nacional de muita importância
Atlético-MG e Flamengo entram em campo no próximo domingo (20), em Cuiabá, para a disputa do primeiro troféu nacional da temporada. A Supercopa do Brasil está em sua quinta edição, mas muito provavelmente a atual é a mais polêmica de todas. Ou é a de disputa mais acirrada, em razão das inúmeras reclamações e provocações de ambos os lados por uma conquista que, curiosamente, para muitos não têm valor algum. Há quem diga que é um amistoso de luxo, um jogo caça-níquel ou uma perda de tempo em meio ao calendário.
Porém, considero importante. E fico impressionado com os argumentos utilizados pelos críticos, entre eles o de que a taça deveria ser entregue direto ao Atlético-MG por ter vencido o Brasileirão e a Copa do Brasil (as duas competições que definem os participantes da Supercopa). O problema é que o Galo mineiro ganhou as duas, mas o regulamento prevê essa situação, indicando o vice-campeão brasileiro para a vaga. É semelhante ao Brasileirão, no qual a mesma situação abre uma vaga na fase de grupos da Copa Libertadores para o quinto colocado. Não foi assim com o Corinthians em 2021?
É até aceitável que o time que tenha vencido as duas competições nacionais entre em campo com alguma vantagem, mas que isso seja considerado para o ano que vem. Adotar essa medida agora seria rasgar um regulamento, ou virar a mesa, como dizemos.
Por falar nisso, não custa lembrar de fatos acontecidos no nosso futebol, em que vários clubes se beneficiaram, disputando competições nas quais, caso os regulamentos fossem seguidos com rigor, não deveriam estar.
Por exemplo: você sabia que o Campeonato Brasileiro, nos anos 80, preenchia suas vagas de acordo com o desempenho das equipes nos estaduais? Pois é. Em 1983 o Santos ficou em nono lugar no Paulistão, mas acabou sendo convidado para jogar a primeira divisão. No ano seguinte, 1984, o Vasco ficou em sétimo no Carioca e o Grêmio em terceiro no Gaúcho, e também receberam convites. Os três deveriam ter disputado a Segunda Divisão naqueles anos.
Em 1986, após um Campeonato Brasileiro conturbado, em que houve mudança de regulamento no meio da disputa, o Botafogo e o Coritiba foram rebaixados para o ano seguinte. Mas aí veio a Copa União e ambos acabaram sendo convidados para seguirem na Série A. Em 2000 o Bahia estava na segunda divisão, o Fluminense tinha acabado de subir da C para a B, mas os dois também receberam convites e participaram da Série A sem terem assegurado vaga no campo (o campeonato em 2000 foi organizado pelo Clube dos 13 e acabaram misturando times de várias séries num bolo só). Por fim, não custa lembrar o Mundial de Clubes de 2000, no qual a Fifa convidou os clubes campeões de 1998, do Brasil e da Libertadores, para a disputa no Rio de Janeiro. O Corinthians ainda faturou o Brasileirão de 1999, mas o Palmeiras, campeão da Libertadores de 1999, foi alijado da disputa em benefício do Vasco, campeão do ano anterior.
Daí você pode perguntar: de quem foi a culpa? Certamente não foi dos clubes convidados. Os responsáveis são os que fazem os regulamentos e organizam as competições. Como agora, na Supercopa do Brasil, em que um regulamento escrito há três anos está sendo contestado, fazendo com que algumas pessoas acusem a CBF de beneficiar o Flamengo.
Aliás, o Rubro-Negro é o clube de história mais vitoriosa na Supercopa. Essa competição surgiu nos anos 1990, quando foi disputada duas vezes: em 1990 o Grêmio bateu o Vasco, e em 1991 o Corinthians foi campeão em cima do Flamengo. A disputa voltou em 2020, e o time carioca superou o Athletico-PR e o Palmeiras, sendo o atual bicampeão. Será então a quarta vez do time da Gávea na briga pela taça e a primeira do Atlético-MG.
E esse jogo tem um atrativo a mais. No Brasileirão do ano passado o Galo foi campeão com sobras, enquanto o Flamengo foi vice com altos e baixos. Porém, no confronto entre eles cada um venceu um jogo. E a expectativa para 2022 é de que eles se encontrem algumas vezes, duas garantidas no Brasileirão, com boas chances na Copa do Brasil e na Libertadores. Então, o jogo de domingo terá esse tempero. Como vai começar esse confronto particular entre as duas equipes mais fortes do país?
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.
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