No Brasil, a banalização da morte
Por Vinicius Sartorato – Desejar ou comemorar a morte de alguém, seja quem for, é uma atitude canalha, covarde, doentia e idiota. No caso de Dona Marisa Letícia, esse tipo de atitude tem agregado um pensamento que espalharam por nosso país – e que banaliza o sentido da vida.
A postura dos médicos que quebraram o código de ética da medicina, de pessoas que foram pedir ou festejar a morte diante do hospital, ou mesmo a fala de alguns famosos, como a atriz Luana Piovani, censurando a fala de Lula no velório de sua esposa, demonstram uma mesquinharia sem limites, um verdadeiro absurdo. Mas, o que está por trás dessas ações?
Se formos rígidos, desde a perspectiva histórica, o fascismo ficaria restrito aos anos 20, 30 e 40 na Itália. Entretanto, se considerarmos os elementos constituintes deste tipo de pensamento, veremos claramente como essas idéias ainda estão vivas no Brasil e no mundo – com características diversas.
Sem um líder de grande expressividade no Brasil, o fascismo – ou neofascismo brasileiro, apóia-se na repulsa à democracia, no autoritarismo, na defesa do militarismo, da violência como método, do moralismo, do nacionalismo e no discurso de uma identidade nacional pura, negando as classes sociais.
Marisa Letícia, uma filha de camponeses italianos, operária, poderia passar desapercebida, mas quase sem querer ofendeu a Casa Grande ao virar Dona Marisa Letícia. Mais do que isso, Dona Marisa Letícia, foi a companheira de mais de 4 décadas, que esteve ao lado de Lula, um líder sindical que questionou as estruturas nacionais estabelecidas ao mostrar que grande parte dos brasileiros estavam esquecidos, marginalizados – apesar do discurso nacionalista vigente nos anos 70.
O fato concreto, é que Lula, migrante nordestino, operário, sindicalista, acabou eleito e reeleito presidente da República. Querendo ou não, ainda hoje, Lula é visto pela maior parte da população (atestado por todos institutos de pesquisa – e não sou eu quem diz) como o melhor presidente que o país já teve. Uma verdadeira ofensa para o imaginário das elites do país.
Para àqueles que celebraram ou desejaram a morte de Dona Marisa Letícia – e tentam justificar com um discurso anticorrupção, saibam que até o dia de hoje, ela não havia sido condenada por nenhum crime. E mesmo que tivesse sido condenada, não mereceria tal postura.
Os fascistas, são assassinos da política, escondem a realidade da classe trabalhadora sob um falso discurso nacionalista, não gostam de diálogo e desprezam a democracia e nossa diversidade, sempre buscando “bodes-expiatórios” para culparem os problemas do país. Talvez por isso, tenham desejado tanto a morte de Dona Marisa Letícia – como desejam a de Lula.
Não quero com esse texto dar lição de moral, nem fazer discurso para nada, entretanto quero somente chamar a atenção para a necessidade de respeito e civilidade. Por pior que possa parecer, uma das maiores virtudes da política é o diálogo entre diferentes. Quando Sarney, FHC e Temer foram cumprimentar Lula no Hospital Sírio-Libanês, demonstraram isso.
Não podemos admitir que a barbárie fascista tome conta das nossas casas, das nossas famílias e do nosso país. A barbárie fascista não vê adversários, mas sim, inimigos a serem destruídos.
Vinicius Sartorato, Sociólogo, 35 anos. Mestre em Políticas de Trabalho e Globalização.