Agente de saúde é a primeira indígena a ter coronavírus confirmado
A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas confirmou hoje (1º) o primeiro caso do novo coronavírus entre índios brasileiros. Segundo a fundação, vinculada à secretaria estadual de Saúde (Susam), trata-se de uma jovem de 20 anos de idade, da etnia Kokama, que trabalha como agente de saúde indígena na região da cidade de Santo Antônio do Içá (AM).
O município, que fica na microrregião do Alto Solimões, integra o Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Solimões. Segundo a fundação, a paciente pode ter tido contato com o médico que atua no mesmo distrito e que também testou positivo para covid-19.
Só em Santo Antônio do Içá, há, além da jovem indígena e do médico, outras duas pessoas cuja doença já foi confirmada. De acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, o caso da agente de saúde é o único confirmado entre índios em todo o Brasil. Mas outros 12 indígenas que tiveram contato com o médico, além de 15 integrantes da equipe de saúde, estão em isolamento preventivo, sendo assistidos pela Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena do DSEI Alto Solimões desde o 25 março.
Ainda de acordo com a Sesai, a agente de saúde não apresentou qualquer sintoma da infecção. Seus parentes também estão sendo assistidos e em isolamento. Além disso, ações de vigilância foram intensificada em toda a região a fim de tentar evitar que síndromes gripais e respiratórias agudas graves se espalhem.
O total de casos confirmados em todo o estado até esta tarde já chegava a 200, segundo o governo estadual. Destes, 179 foram registrados em Manaus; seis no município de Manacapuru; quatro em Itacoatiara; quatro em Santo Antônio do Içá e três em Parintins. As cidades de Boca do Acre, Anori, Novo Airão e Careiro da Várzea tem um caso confirmado cada.
Vinte e oito pacientes estão internados, 13 deles em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Além disso, três pessoas já morreram no estado em decorrência da doença e as causas de outros três óbitos estão sendo investigadas. Há ainda 106 casos de pessoas que apresentaram sintomas da doença, se submeteram a testes e aguardam os resultados.
Sobre a possibilidade de transmissão do vírus entre os indígenas, a Sesai afirma estar atenta, “trabalhando para atender aos mais de 800 mil indígenas aldeados e presentes em todo o Brasil”, em conformidade com as orientações técnicas para ajudar a prevenir, combater e tratar a infecção pela covid-19.
Em nota, a Fundação Nacional do Índio (Funai) lembrou que, por precaução, suspendeu a concessão de novas autorizações de entrada de não-índios em terras indígenas. E que está monitorando a situação nas aldeias, em parceria com a Sesai, que é a responsável por definir as instruções de prevenção da doença. A Funai, por sua vez, garante estar trabalhando “na orientação e difusão de informações junto às comunidade indígenas”.
No fim da tarde, ao apresentar os últimos números sobre a covid-19 no país, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a possibilidade de a doença se espalhar entre os povos indígenas é “uma grande preocupação” de todas as autoridades. “A história [demonstra que] os índios sempre tiveram uma resposta muito diferente [dos não índios] e podem ter curvas maiores em relação à morbidade e a letalidade em relação a esta doença. Estamos alertando. Já houve lideranças indígenas chegando [de viagem ao] exterior às quais foi recomendado que não fosse para a aldeia, que cumprisse uma quarentena de 14 dias, e que teimou e foi. Enfim, há que se tomar um cuidado triplicado nestas comunidades. Principalmente com aquelas que têm pouca convivência [com não índios] e um sistema imunológico não preparado para uma situação como esta”, declarou o ministro ao lembrar que hábitos culturais indígenas podem contribuir para propagar a doença entre suas próprias comunidades caso o vírus chegue às aldeias.
Matéria alterada às 20h24 para acréscimo da declaração do ministro da Saúd