Osasco completa 62 anos de emancipação; conheça a história da cidade
Por Maurício Viel
A emancipação de Osasco aconteceu em 19 de fevereiro de 1962. Mas, para entender o que levou os moradores de um então bairro da Capital a se unir e lutar para transformá-lo em uma cidade, é preciso conhecer Osasco desde sua formação e acompanhar cada passo de seu desenvolvimento.
A cidade já surgiu com vocação para crescer. Ela era parte da rota dos bandeirantes que desbravavam o estado. Registros históricos indicam a existência de povoamento nessa área desde o século XVII, quando, em 1634, as terras do bairro de Quintana pertenciam ao bandeirante Antônio Raposo Tavares. Durante o século XIX, além desses sítios, também eram ocupados a Fazenda Jaraguá, que pertencia ao general França Horta e onde se minerava ouro, e a aldeia de pescadores que ficava às margens do Tietê, mais conhecida hoje como Vila dos Remédios.
Mas, foi no final do século XIX, em 1872, que o imigrante italiano Antônio Agu adquiriu algumas glebas de terra nessa região e “plantou” a semente da cidade que vemos hoje.
Antônio Agu
Filho de Antônio Giuseppe de Pietro Agu e Domênica Vianco, Antônio Agu (foto) nasceu no dia 25 de outubro de 1845 em Osasco, Itália, antigo distrito de San Recondo Di Pinerolo. Casou-se em 1870, com Teresa Chiaretta. Muitas foram as razões que trouxeram os italianos para as Américas e com a família Agu não foi diferente. Entre os motivos, estavam a unificação da Itália e o esgotamento da terra. Antônio Agu chegou no Brasil no mesmo ano de nascimento de sua filha, Primitiva Vianco, e comprou as terras de João Pinto Ferreira, onde foi fundada a Vila Osasco. As primeiras propriedades foram vendidas para Antônio Agu no ano de 1887, quando ele adquiriu casas, ranchos e outros terrenos.
Empreendedor, ele iniciou no local a produção de tijolos em uma pequena olaria que construiu. Passou a vender areia, telhas e tijolos para a ferrovia Sorocabana. Para trabalhar no local, chegaram as primeiras famílias, a maioria também vinda de outros países. Elas foram se instalando às margens da estrada de ferro, que cortava a região e servia para o transporte de cargas.
Os negócios foram indo muito bem e, logo Agu fundou a primeira fábrica de papelão da América do Sul e, em seguida, uma fábrica de tecidos. Em 1895, com o aumento tanto da população quanto da produção, Agu quis que sua produção fosse comercializada em outras regiões e construiu uma estação ferroviária (foto) em suas terras e a doou à Sorocabana. Seu único pedido foi oficializá-la como “Estação Osasco”, uma homenagem a sua cidade natal, na Itália.
Entre os anos 1898 e 1899, a região registrou o maior número de compra e venda de terrenos e imóveis. As quadras e ruas eram irregulares em suas formas, porque o atual centro de Osasco era um enorme alagado. Não havia projeto de loteamento antes da venda ou da construção. Primeiro se fazia a casa, depois é que se media e demarcava o lote.
Com o aumento da industrialização e contando com a aproximação da região central, foram surgindo a vila Bussocaba, o Quartel de Quitaúna, Jardim Bela Vista, Jardim Mutinga, Jardim Piratininga, Presidente Altino, entre outros bairros, que se formaram a partir do crescimento da área industrial.
O grande marco da história de Osasco aconteceu em 1918, quando a vila do km 16 foi elevada à categoria de distrito da cidade de São Paulo, devido ao crescimento local da economia. Todas as propriedades da Ferrovia Sorocabana eram sítios, sendo que o primeiro a dar origem à formação urbana foi o de Agu, chamado Sítio Ilha de São João. Os demais proprietários acompanharam Antônio Agu, ou seja, investiram em estabelecimentos comerciais residenciais, além de pequenas fábricas, como os irmãos Gianetti & Cia (fábrica de massas) e o banqueiro Giovanni Brícola, que se tornou, em 1900, representante do Banco Nápoles e formou uma respeitável fortuna. Dentre seus bens, destaca-se o casarão que abriga o Museu Municipal de Osasco.
Em 1922, ganhou um serviço de balsa para travessia do Rio Tietê. Neste mesmo ano, o Exército brasileiro instalou uma unidade militar na região onde se localizava o antigo sítio de Antônio Raposo Tavares, promovendo a ocupação da área onde hoje é o bairro de Quitaúna. Em 1923, chega a luz elétrica e, no ano seguinte, é inaugurado o primeiro cemitério da cidade (Bela Vista).
Na década seguinte, Antônio Agu arrendou sua olaria ao barão Evaristhe Sensaud de Lavaud, que se associou aos franceses Joseph Levy, Hermann Levy e Artur Kalm, criando a fábrica de tubos e a Cerâmica Sensaud de Lavaud & Cia. Paralelamente, em sociedade com Henrique Dell’Acqua, Agu instalou uma fábrica de tecidos. Em seguida, em 1892, implantou uma indústria de cartonagem em sociedade com Narciso Sturlini. E, em 1908, Sturlini se associou a Nicolau Matarazzo e foi criada a Sturlini & Matarazzo, primeira fábrica de papelão da América Latina, que passou a também ser conhecida como “Cartieira”.
Ao mesmo tempo, Osasco também se desenvolvia em outras regiões. O ferreiro Manoel José Rodrigues adquiriu terras entre o rio Tietê e a linha Sorocabana, criando o bairro do Maneco, atual Bonfim. Em 1915, foi a vez da implantação da Continental Products Company, frigorífico às margens do bairro de Presidente Altino e que, em 1934, passou a chamar-se Frigorífico Wilson.
Por volta da década de 1940, a metalurgia pesada começou a se instalar na região. Já nos anos 1950, com o crescimento da Cobrasma e da Brown Boveri, Osasco ganhou fama de núcleo operário, quando superou os 40 mil habitantes. Razão que levou, anos mais tarde, a ser conhecida como “Cidade Trabalho”.
Crescimento
A economia ganha novo impulso em 1929, com a instalação da Fábrica de Fósforos Granada e a oficina da Soma (Cia Sorocabana de Material Ferroviário). E, em 1930, a Hervy passa a produzir louça sanitária, sendo pioneira na fabricação desse material na América Latina.
Em 29 de março de 1931, foi inaugurada a Igreja Matriz de Santo Antônio de Osasco, hoje Catedral de Santo Antônio. A rede de transporte, nessa mesma época, contava com três estações ferroviárias (Presidente Altino, Osasco e Quitaúna) e uma linha de ônibus que fazia a ligação Osasco – Pinheiros. A extensão da atual Avenida dos Autonomistas já contava com moradias.
Nas décadas de 1940 e 50, chegaram à região empresas de grande porte, sobretudo as de metalurgia pesada e que, no futuro, ajudaram a escrever o nome de Osasco como um dos principais polos industriais do país: em 1940 a Eternit; em 1944 a Cobrasma; em 1946 a CIMAF; em 1950 o Moinho Santista; em 1951 a Lonaflex; e em 1952 a Benzenex. Em 1953, foi fundada a Cidade de Deus (matriz do banco Bradesco) e a Rilsan. Em 1955, veio a Osram; em 1957 a Rockwell Braseixos, Brown Boveri e Ford do Brasil, e ainda em 1960, a White Martins.
Nova Promoção e o Início da Luta Emancipacionista
Com todo esse crescimento, em 1944 Osasco passou de zona distrital para subdistrito da cidade de São Paulo. Mas, os problemas decorrentes do desenvolvimento econômico e população se acumulavam: faltavam serviços básicos, como transporte, hospitais e escolas para a população que crescia.
Foi então que surgiu a Sado (Sociedade Amigos do Distrito de Osasco), formada por moradores insatisfeitos com o papel de coadjuvante que o então distrito tinha junto à Capital e que, em 29 de julho, elegeu sua primeira diretoria, tendo à frente o dentista Reynaldo de Oliveira.
Foi na luta por melhores condições de vida que teve início o movimento emancipacionista. E, em 1952, ele se tornou mais atuante, inclusive com a vinda de deputados ao então distrito para falar sobre a questão da emancipação. Em 1953, foi marcada uma consulta popular sobre o tema, na qual a população deveria votar no “sim” ou no “não” à emancipação. E, apesar de toda a campanha da Sado, o “não” venceu.
O movimento emancipacionista começou, então, a analisar as causas da derrota e sofreu outro duro golpe, com novas promessas do então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, de implantar uma linha de ônibus até o centro de São Paulo e de construir um Mercado Municipal, acalmando assim os mais insatisfeitos e fazendo cair a adesão ao “sim”.
Uma Longa Espera
Passaram-se então cinco anos até que a luta fosse retomada. Pelas leis da época, para haver plebiscito era necessário que pelo menos um terço dos eleitores de Osasco se inscrevessem até o dia 30 de abril. A meta foi alcançada e a votação foi marcada para 21 de dezembro do mesmo ano.
No resultado, dos 24 mil eleitores de Osasco, 8 mil votaram e o “sim” ganhou com diferença de 1300 votos. Mas a votação aconteceu cercada de polêmicas. Dentre as denúncias, moradores de outros distritos teriam votado em Osasco, o que era proibido por lei. E até eleitores falecidos tiveram votos registrados. Com isso, vieram os entraves judiciais. O então prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, conseguiu um mandado de segurança contra as primeiras eleições municipais, que já contavam com 269 candidatos a vereador, 6 a prefeito e 7 a vice-prefeito.
Após muita briga, a disputa foi marcada para 7 de janeiro de 1962, pelo Tribunal Regional Eleitoral. Mas, um dia antes, o prefeito da Capital conseguiu um mandado no Supremo Tribunal Federal. Os osasquenses fizeram então uma marcha até São Paulo para reivindicar o direito de votar. Uma bandeira negra também foi hasteada no Largo da Estação de Osasco e, nos dias seguintes, o movimento chegou a parar o Vale do Anhangabaú. Os manifestantes foram ainda à Assembleia Legislativa e decidiram seguir até o Palácio do Governo, mas foram barrados pelo Pelotão de Choque. Apenas dois representantes foram recebidos pelo governador, virando notícia no jornal Times, de Londres. Outra forma de protesto dos Autonomistas foi colocar urnas espalhadas pelo centro para que os eleitores devolvessem os seus títulos ao Tribunal Eleitoral.
Movimento Emancipacionista
Um bairro esquecido de São Paulo, sem pavimentação, sem rede de água ou esgoto e transporte deficitário. Assim era a Vila Osasco, quando teve início a luta pela emancipação. Embora seus defensores alegassem que a autonomia traria progresso, nem todos os moradores acreditavam nisso e temiam dias piores. Por conta disso, não demorou muito para que a cidade se dividisse em dois grupos: “sim” e “não” da emancipação. Osasco contava com 41 mil habitantes, duas escolas públicas, nenhum mercado municipal e as pontes que uniam os dois lados da cidade – eram feitas de tambor. O prefeito da Capital não tinha a menor preocupação em melhorar a vida dos moradores do subdistrito.
Só havia dois pontos de destaque. O baixo custo dos terrenos e a proximidade da linha férrea atraíam pessoas e indústrias. Com isso, a paisagem do lugar mudava rapidamente, mas a falta de estrutura ajudava a formar um sentimento de revolta e indignação. Enquanto a Capital se transformava na grande metrópole, Osasco não recebia qualquer melhoria.
A novíssima Constituição de 1946 trouxe uma série de vantagens aos municípios, entre elas a posse tributária sobre licenças, impostos prediais e territoriais, sobre indústrias e profissões a critério das necessidades municipais, além da criação do Fundo de Participação dos Municípios.
As alterações na legislação tornaram possível a execução de muitas obras planejadas e não executadas. A arrecadação de recursos também abriu mais uma possibilidade, a da autonomia. Osasco emancipado poderia sobreviver e progredir.
A emancipação, para muitos, era a única saída para melhorar a qualidade de vida no lugar onde moravam. Em março de 1953, o então vereador Jânio da Silva Quadros foi eleito prefeito da Capital. No ano anterior, Osasco já se organizara através da Sociedade de Amigos do Bairro para disputar o plebiscito pela emancipação do distrito.
O movimento contrariava os interesses do dono do cartório, Lacydes Prado e sua irmã Eloísa. A população se dividiu. O “sim” era liderado pela Sociedade de Amigos do Bairro de Osasco e o “não” pelo dono do cartório.
“Quando do primeiro plebiscito, Lacydes colocou 28 seções eleitorais em 2 locais”, conta o emancipador André Menck. “Após a votação, as urnas foram guardadas no cartório de Lacydes para serem levadas para São Paulo no dia seguinte”, emenda Aristides Colino Jr. Os dois emancipadores revelaram que, ao “guardar” as urnas, o grupo de Lacydes alterou a votação. “Todos sabiam que o plebiscito havia sido roubado. A Eloísa Prado vivia dizendo que eles roubaram mesmo”, ressalta André Bogasian.
Geraldo Setter, atual presidente de honra da Ordem dos Emancipadores, diz que o “sim” perdeu mesmo tendo dois terços da votação. “Tudo foi transformado em uma disputa da influência política do Lacydes Prado contra os moradores de Osasco”, relembra André Menck. “Os que acreditaram na possibilidade da emancipação não se deram por vencidos. Dois anos depois da primeira votação se prepararam melhor para a segunda”, conta Antônio Lopes.
“Depois de muita luta e da brilhante atuação de moradores ilustres do lugar é que conseguimos nos emancipar de São Paulo. Hoje o trabalho da Ordem dos Emancipadores é consagrar os participantes do movimento pela emancipação e não deixar cair no esquecimento este feito histórico”, explica Setter.
Primeiro Prefeito e Vereadores
As eleições finalmente ocorreram e Hirant Sanazar (votando na foto) foi eleito o primeiro prefeito de Osasco em 4 fevereiro. Ele obteve 9.823 votos, dos 23.283 votos válidos. Em 7 de fevereiro ocorreu sua diplomação, junto com os vereadores eleitos, e no dia 19 de fevereiro, o governo de São Paulo publicou um decreto oficializando a emancipação e, com isso, na mesma data, aconteceram as posses do prefeito e se 23 vereadores.
Hirant Sanazar assumiu com muita competência a responsabilidade de, literalmente, montar a administração osasquense. Dentre os seus principais atos, destacam-se o asfaltamento das ruas da região central, desde a Avenida Marechal Rondon (na época conhecida como rua da Cobrasma) à Rua Antônio Agu.
A nova cidade vivenciava inúmeros problemas, pois enquanto bairro da Capital, era esquecida como qualquer outro bairro da periferia. Hirant teve de ser provedor de vários serviços, como caminhões pipa para levar água aos bairros. Criou ainda as chamadas “lotações” para atender o transporte coletivo, implantou um sistema de ambulâncias e a biblioteca. Mas, o seu maior legado, que até hoje é reconhecido, é a fundação da JUCO (Juventude Cívica de Osasco), que além de formação, cidadania, também proporciona ao jovem a inserção no mercado de trabalho.
I – LEGISLATURA DE OSASCO – 19/02/1962 a 18/02/1966
PODER EXECUTIVO
Prefeito: Hirant Sanazar – PRT (de 19/02/1962 a 27/06/1964); Vice-Prefeito: Dr. Marino Pedro Nicoletti – PDC (de 27/06/1964 a 19/06/1966); Interventor: Dr. Marino Pedro Nicoletti – PDC (19/02/1966 a 31/12/1966)
PODER LEGISLATIVO
I Sessão Legislativa – 19/02/1962 a 18/02/1963 – Mesa-Diretora: Orlando Calasans – PTN (presidente); Alfredo Thomaz – PR (vice-presidente); Adevaldo José de Castro – PRT (1º secretário); Clóvis Carrilho de Freitas – UDN (2º secretário); Clóvis Assaf – PRT (3º secretário). Demais vereadores: Anizio Nunes – PDC; Aymoré de Mello Dias – PRT; Benedito Ventura Nitão – PTN; Cid Sergio Alcântara Von Puttkammer – PSD; Esmeraldo Vieira Malagueta – PR; João Catan – PSD; João Emílio Bornacina – UDN; João Gilberto Port – UDN; Joaquim Fraga – PSB; José Guizi – PSD; Marino Lopes – PDC; Moacyr de Araújo Nunes – PSB; Osler de Almeida Barros – PDC; Octacílio Firmino Lopes – PDC; Pedro Furlan – PDC; Primo Broseghini – PDC; Vicente Florindo Netto – PTN; Wilton Pereira da Silva – PTN.
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Em 19 de fevereiro de 1962, os 23 primeiros vereadores (atualmente são 21), o primeiro prefeito e o primeiro vice-prefeito tomaram posse. A Câmara de Osasco, em sua 1ª Legislatura, juntou-se ao Poder Executivo e passou a criar condições para consolidar a autonomia do recém criado município de Osasco.
Assim, foi aprovado o orçamento e criado um quadro de funcionários públicos, tanto para o Legislativo quanto para o Executivo, a fim de possibilitar o funcionamento dos órgãos da administração.
Sobre esse acontecimento, o Dr. Aymoré de Mello Dias, vereador da 1ª Legislatura, revelou: “O município de Osasco existia apenas no papel, era um distrito paulistano, ou seja, a administração pública era exercida por São Paulo. A nova cidade estava, claro, desprovida de qualquer bem móvel ou imóvel. Nós não tínhamos sequer um local para instalação dos órgãos públicos. A Câmara, por exemplo, foi alojada em um parque infantil (foto) e a prefeitura ocupou um prédio que estava ruindo. Nós construímos o município do nada. Fizemos as leis básicas, que se tornaram o alicerce para o surgimento do município de Osasco. Como a cidade não existia, deve-se reconhecer o esforço conjugado de todos aqueles políticos que começaram a construir a cidade e que trabalharam em favor de seu progresso e de seu desenvolvimento”.
Em entrevista, outro vereador da 1ª Legislatura, João Gilberto Port, afirmou: “Quando alcançamos o status de cidade em Osasco, havia apenas três ruas pavimentadas e cinco ou seis iluminadas. O resto era brejo, ruas de terra, esgoto a céu aberto. Era uma cidade por construir, com tudo por fazer. Aceitamos e acreditamos que podíamos construir uma cidade quando aceitamos lutar pela emancipação. Achávamos que era preciso libertar Osasco da capital de São Paulo e assumir a liderança desse movimento. Fomos presos pelo DOPS, respondemos processos em função do dia do plebiscito”, lembrou.
Vereador eleito para a 1ª Legislatura, Clóvis Assaf, certa vez declarou: “Osasco se emancipou numa época muito difícil, porque o prefeito de São Paulo, Prestes Maia, ficou devendo 800 milhões para a cidade e não pagou. O primeiro prefeito teve que fazer um levantamento aéreo-fotográfico para poder cobrar os impostos da ocasião. Aliás, com três meses, elegemos o primeiro presidente da Câmara. Depois, começamos a trabalhar com o governo do estado, porque Osasco crescia vertiginosamente sem ter uma praça, água ou esgoto encanados. Não tínhamos nada, e o crescimento de Osasco era tremendo”, emocionou-se.
A grande preocupação dos vereadores e do Poder Executivo também foi a propositura e aprovação de posturas e de leis que regulassem a vida da cidade, quanto às normas de edificações, saúde, instituição de taxas e impostos e isenções às indústrias que se instalassem em Osasco.
Nesta 1ª Legislatura, o Executivo foi autorizado a colocar imóveis à disposição do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Um para a instalação do fórum e outro para servir de moradia ao juiz da Comarca. Várias áreas foram desapropriadas para construção dos primeiros equipamentos públicos municipais, entre eles: parques infantis, escolas, praças e avenidas. Também nesta época, foram criadas, por lei, a Biblioteca Municipal Monteiro Lobato e a JUCO – Juventude Cívica de Osasco. Convênios foram firmados junto ao Estado de São Paulo para utilização de equipamentos de saúde estaduais e a criação de um quartel do Corpo de Bombeiros no novo município.
Hirant Sanazar, primeiro prefeito de Osasco, em entrevista, declarou: “Nós fizemos convênios importantes com o Governo do Estado. Através do governador Carvalho Pinto, conseguimos o policiamento de Osasco e a transferência do ensino municipal para o ensino estadual, já que nesta época era do município de São Paulo”, contou.
Algumas leis foram criadas para anistiar as construções clandestinas, denominar ruas, subvenções às entidades assistenciais e outorga de Títulos de Cidadão Osasquense. O primeiro título foi a Auro Soares de Moura Andrade, senador da República. O Executivo solicitou e a Câmara aprovou, após intensos e fervorosos debates, a abertura de concorrência pública para implantação do sistema de telefonia automática na cidade (DDD – Discagem Direta à Distância), vencida pela COTESPA – Companhia Telefônica Suburbana Paulista, empresa ligada ao grupo Bradesco. “Nós abrimos concorrência internacional para exploração da telefonia no novo município, criando o sistema DDD. Através desta iniciativa, Osasco passou a falar com o mundo inteiro”, comentou o primeiro prefeito.
Já nessa época, há o registro de autorização para abertura de crédito especial mediante a emissão de letras do tesouro municipal.
As leis 130 e 131, aprovadas no período, colocavam em evidência um assunto que, à época, ainda estava “quente” nos meios políticos da região: a emancipação de bairros da capital. Foram aprovadas as incorporações, ao jovem município de Osasco, dos bairros do Jaguaré, Vila Jaguara e Vila Piauí, bem como os altos da Vila dos Remédios.
“Na verdade, na ocasião, o Jaguaré pertencia a Osasco. Foi uma manobra política muito ‘malandra’ que fizeram”, comentou Sanazar. “O prefeito ‘engoliu’ essa situação por algum tempo e mais tarde tentou um plebiscito. Utilizou-se o plano quinquenal da Lei Orgânica, que regia todos os municípios, mas acabou perdendo na votação. Na minha opinião, não seria necessário um plebiscito, porque nas plantas e mapas de antigamente, o Jaguaré constava como parte do 14º distrito de Osasco. Em relação à Vila Piauí e Vila Jaguara, eu tenho a impressão que não houve atuação jurídica adequada para poder reivindicar aqueles bairros para Osasco. Acho que nos dois casos faltou o trabalho de um jurista competente para poder fazer essa reivindicação valer. Com isso, Osasco perdeu uma parcela considerável daquilo que poderia ser hoje um território muito grande e uma fonte arrecadadora de grande valor para cidade”, relatou o Dr. Aymoré de Mello Dias.
Vida Política no Jovem Município e a Revolução
A vida política do país era muito conturbada naqueles tempos de 1964 e a frágil democracia vigente sofreu um duro impacto com o Golpe Militar de 1964. Os partidos políticos, sindicatos e outras instituições foram fechadas e vários dirigentes presos. A acusação dos golpistas era a “corrupção” e a “subversão”.
Conforme relato do vereador João Gilberto Port, líder estudantil na época, “com a constituição da Câmara, os vereadores foram tratar dos seus subsídios, mas nós, os estudantes, nos movimentamos e lideramos a luta contra sua fixação. Os estudantes foram à porta da Câmara, onde houve até apedrejamento do prédio. Eu era o líder. Houveram diversas acusações, mas foram todas dissipadas durante o IPM (Inquérito Policial Militar), que se realizou em Quitaúna”.
Hirant Sanazar conta que “houveram 45 prisões no município, nas áreas estudantil, metalúrgica e bancária”. Em fevereiro de 1966, Osasco sofreu intervenção federal, sendo que o prefeito e todos os vereadores foram presos e perderam os seus mandatos.
Na ocasião, o vice-prefeito era o engenheiro Marino Pedro Nicoletti, que havia disputado as primeiras eleições em outra chapa, pois naquela época, os vices eram eleitos em separado e o candidato que conseguisse maior número de votos ficava com a vaga.
Oposição
Assim que assumiu o cargo, o prefeito Hirant Sanazar passou a sofrer oposição ferrenha do grupo de Nicoletti. Dessa forma, administrar e construir a nova cidade ficou mais difícil. “Me recordo que muitas vezes o vice-prefeito foi visto com militares no período que antecedeu o Movimento Revolucionário, levando informações a respeito da situação política da cidade. Foi quando eclodiu o Movimento, em 31 de março de 1964, e os militares já estavam ligados a esse grupo através da união do PL (Partido Libertador) e da UDN (União Democrática Nacional), partidos considerados antidemocráticos na ocasião”, explicou.
Então, fizeram denúncias anônimas, o que era suficiente para que um político fosse recolhido aos quartéis. Isso aconteceu por muitas vezes. Denúncias falsas, sem nenhum fundamento, que acabam por não condenar ninguém”, comentou o primeiro prefeito. Segundo ele, “alegavam que os vereadores teriam recebido propina para aprovar o projeto que entregaria os serviços telefônicos ao Bradesco (COTESPA)”. Fui acusado de defender a entrega dos serviços telefônicos a uma empresa da Alemanha Oriental (antiga Alemanha Comunista). Acabaram não provando nada e o inquérito policial militar foi arquivado por falta de provas”, explicou Sanazar.
Os vereadores chegaram a ser soltos e escoltados até a Câmara para votar a vacância do cargo do prefeito, que foi substituído pelo vice-prefeito Marino Pedro Nicoletti. Conforme contou o vereador-suplente à época, Hugo Crepaldi Filho, um fato curioso ocorreu em Osasco: a intervenção. Osasco foi um dos poucos municípios brasileiros que, em razão da Revolução de 1964, teve o seu Poder Legislativo fechado. Isso ocorreu pois o mandato do então prefeito havia terminado”, afirmou.
Marcaram-se novas eleições, mas não chegaram a ser realizadas, em razão do fechamento dos partidos políticos. Assim, foi nomeado um interventor federal, o então vice-prefeito Marino Pedro Nicoletti. Foi através deste engenheiro, nomeado em 1966, que o Governo Federal se fez representar em Osasco. Naquela oportunidade, a mesma pessoa exercia as funções e atribuições dos poderes Executivo e Legislativo. Por essa razão, encontram-se, ainda em vigência, alguns Decretos-Lei (feitos pelo Poder Legislativo e sancionados exclusivamente pelo Poder Executivo, na figura do interventor). “Nós tínhamos eleições marcadas, mas foram suspensas em razão do fechamento dos partidos”, explicou Crepaldi.
Segundo o suplente, “uma das pessoas de grande valor naquela oportunidade foi Orlando Calasans, o primeiro presidente da Câmara dos Vereadores de Osasco, que soube dar o pontapé inicial nos trabalhos do Poder Legislativo Municipal, apesar de todas aquelas dificuldades encontradas”.
PODER EXECUTIVO – Prefeitos de Osasco
1962/1967 – Hirant Sanazar
1967/1970 – Guaçu Piteri
1970/1973 – José Liberatti
1973/1977 – Francisco Rossi
1977/1982 – Guaçu Pìteri
1982/1983 – Primo Broseghini (Pres. Câmara Municipal)
1983/1988 – Humberto Parro
1989/1992 – Francisco Rossi
1993/1996 – Celso Giglio
1997/2000 – Silas Bortolosso
2001/2004 – Celso Giglio
2005/2008 – Emidio de Souza
2009/2012 – Emidio de Souza
2013/2016 – Jorge Lapas
2017/atual – Rogério Lins
Mudança no Perfil Econômico
O setor industrial foi o grande propulsor do desenvolvimento de Osasco até a sua emancipação e ainda duas décadas depois disso. Mas, nos anos 1980, a forte crise econômica que atingiu o país fechou dezenas de fábricas em todo o território nacional, incluindo na cidade. Dentre elas, fechou as portas a gigante Cobrasma, que na década de 1960 havia sido palco de uma greve histórica, que marcou o início da luta contra a ditadura militar no Brasil. Já nos anos 1990, as empresas que ainda resistiam, como a Santista e a Eternit, começaram a dar lugar a “gigantes” do setor de serviços — que continuam chegando até hoje —, mudando o perfil da economia de Osasco para a prestação de serviços. Chegaram à cidade, nas últimas décadas, Avon Cosméticos, Mercado Livre, Sem Parar, Mãe Terra, Pão de Açúcar, Big, Carrefour, Sam’s Club; Assaí, Atacadão, Makro, I Food, entre outras, ao lado dos shoppings Osasco Plaza, União e Super Shopping. Esse perfil econômico foi ainda mais reforçado com a chegada do Rodoanel, que trouxe para Osasco centros de distribuição de outras grandes empresas, como Submarino, McDonald’s, Pão de Açúcar e a Coca Cola. No ramo das comunicações, estão em Osasco as sedes do SBT e da RedeTV!
Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios brasileiros, com dados até 2019, aponta que o de Osasco passou de R$ 76,6 bilhões em 2018 para R$ 81,9 bilhões no ano seguinte (crescimento de 6,9%). A participação de Osasco na economia do estado passou de 3,47% em 2018 para 3,49% em 2019. Na Região Metropolitana, a participação passou de 6,49% para 6,52%. A participação no PIB brasileiro passou de 1,09%, em 2018, para 1,11%, em 2019.
O Primeiro Voo da América Latina
Visitar o Museu Municipal e não notar a importância de Dimitri Sensaud de Lavaud para a cidade é falar da história pela metade. Para o cidadão comum, Dimitri Sensaud de Lavaud é apenas um nome. Para a memória da aviação, e de Osasco, foi o autor do primeiro voo da América do Sul.
Sensaud de Lavaud, juntamente com seu pai, morou na casa de Giovanni Brícola. Na manhã de 7 de janeiro de 1910, deu partida em seu avião e deslizou 70 metros sobre uma rampa, hoje a popular avenida João Batista. Atingindo a altura de 3 a 4 metros do chão, o aviador conseguiu percorrer cerca de 105 metros até o motor parar, ocasionando uma aterrissagem brusca. Ao sair sem ferimentos do avião, Dimitri demorou apenas 6 segundos e 18 décimos para realizar sua façanha histórica.
Para manter na memória do presente e futuro o fato histórico, uma réplica do avião de Dimitri Sensaud de Lavaud foi construída e está exposta no Museu de Aviação da TAM, em São Carlos (SP).
Registrado em livro, a ousadia do inventor também virou livro. Escrita pelo jornalista Salvador Nogueira e pela professora Susana Alexandria, a obra “1910 – O Primeiro Voo do Brasil” (Editora Aleph) tem em suas páginas detalhes da vida de Dimitri Sensaud de Lavaud e de sua invenção, resultado de três anos de pesquisas.
O Museu de Osasco
Quem passa pela avenida dos Autonomistas não imagina o contexto histórico que ela oferece. Especificamente no número 4001, onde está localizado um casarão nada semelhante ao estilo de construção presente em toda via que corta a cidade.
Construída no século XIX pelo banqueiro Giovanni Brícola, a casa é hoje o Museu Municipal de Osasco Dimitri Sensaud de Lavaud. Diferente dos demais museus que geralmente recebem prédios sem precedentes para guardar os objetos e história de um povo, o Museu de Osasco é o principal material histórico, já que conserva as principais características da construção original.
Ao subir as escadas da entrada do casarão, é possível iniciar alguns minutos em uma viagem ao tempo, onde tudo era novidade. Fugindo da pressa cotidiana, os pés percorrem a casa preenchendo o ambiente com o barulho de passos no assoalho ou, simplesmente, com o ranger da madeira, típico de casa antiga.
Fundado em 1976, o casarão passou por algumas intervenções, a última entre 2005 e 2009. A alteração mais significativa ocorreu entre 1973 e 1976, quando o porão da casa foi aterrado. Apesar disso, o Museu guarda importantes peculiaridades. Em estilo europeu, os cinco metros de altura da parede demonstram o poder de Brícola, que registrou suas iniciais “GB” em uma das portas principais. Na construção, o único material nacional são os tijolos produzidos na olaria de Antônio Agu, entre os demais materiais está a presença do mármore italiano e do madeiramento inglês.
O Casarão, que ainda não é tombado como patrimônio histórico, dispõe de 12 cômodos distribuídos em dois andares. No lugar das mobílias, quadros e objetos da época. Entre as atrações principais estão a Sala da Emancipação, Osasco de Vários Povos e a Sala da Construção. São fotografias em preto e branco da cidade, de Antônio Agu e da família Narciso Sturlini. Recortes de jornais registram a emancipação e objetos retratam a migração ucraniana, italiana e portuguesa. Para registrar também a chegada de imigrantes armênios, o museu tem frascos com porções de terra da Armênia, simbolizando a permanência do vínculo com a terra natal.
Nas salas de exposição também é possível encontrar um pano português feito de linho plantado, colhido e bordado na Ilha de Açores, em 1882, e tijolos da olaria de Antônio Agu, produzido por volta de 1886. Um dos destaques é a exposição da primeira farmácia de Pedro Fioretti, datada do final do século XIX e início do século XX.
A memória de Osasco vai além da região interna da casa. A exposição de rodas para moer fibras de papel da antiga fábrica Cartieira (depois chamada de Adamas Papéis e Papelões) e um canhão utilizado na Guerra de Canudos, ocupam o espaço verde externo do Museu. A chácara de Giovanni Brícola que ocupava quase um quarteirão da avenida hoje é apenas um décimo do terreno.
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