Ex-chefe de fiscalização de Osasco é flagrado na ‘máfia da Cidade Limpa’ – CBN
Willian de Martini oferece, em Osasco, facilidades para colocar propaganda ilegal nas ruas
Crédito: Pedro Duran/CBN
Por Pedro Durán
Foram 12 anos e meio pulando de cadeira em cadeira em diretorias de departamentos do alto escalão da prefeitura de Osasco.
Depois de comandar a área de Abastecimento, Willian de Martini foi para o Departamento de Controle Urbano chefiar os 13 fiscais que cuidam de propaganda ilegal nas ruas de Osasco. A passagem durou dois anos – até que ele se tornou coordenador de manutenção.
Willian deixou o cargo em janeiro, dez dias depois de o prefeito Rogério Lins assumir o comando da cidade.
Em Osasco, uma lei de 2011 proíbe vários itens de divulgação na rua com pena de apreensão e multas.
A tabela da propina para a propaganda ilegal na cidade tem valores bem menores que a capital paulista: R$ 10 por farol para liberar a panfletagem e R$ 25 no caso de faixas e setas.
Grace Aparecida Moreira, dona da empresa Bellos, afirmou que toda negociação da propina é feita por Willian, que faz a ponte com os fiscais. Ela diz que em um dos empreendimentos que trabalha, a propina para liberar a propaganda é de R$ 2 mil por semana. Os fiscais recebem semanalmente.
“O meu acerto com eles é sempre em uma terça-feira. Então terça-feira vai todo mundo lá dentro do meu escritório. [Então eu deposito na sua conta…] E eu faço o pagamento pra eles. [Você entrega em dinheiro pra eles?] Em dinheiro pra eles”, disse a empresária.
Em uma mensagem de áudio enviada para Grace, Willian diz que o sócio da empresa promotora CPP, Carlos Alfredo, vai ajudar com a liberação da publicidade ilegal em São Paulo, mas que o custo da propina pode variar de acordo com o bairro.
“Cada região ele tem que tratar com uma prefeitura regional diferente. Então ele quer explicar isso, até pra fazer o valor e o custo. E aí cada uma tem um jeito de tratar. Tem algumas que são mais fáceis, outras são mais difíceis”, conta.
Dias depois, num encontro em Osasco, Willian oferece segurança para a propaganda proibida em Osasco. Ele se apresenta como sendo de uma empresa de “assessoria”:
“Ninguém virá aqui do serviço público pra falar o que pode, o que não pode. Então a gente faz essa intermediação. Aqui em Osasco é uma situação bastante tranquila e sei que em São Paulo com o Carlos também”.
Grace diz ter trabalhado na campanha de Rogério Lins. Ela afirma que a divulgação nas ruas foi toda feita de forma ilegal. Nem o nome dela ou da Bellos aparecem no banco de dados da Justiça Eleitoral. O prefeito de Osasco, no entanto, não nega que a contratou, mas diz que fez a campanha dentro da lei:
“Eu trabalhei com a demanda dele todinha. Era 100 mil de jornal por semana. [Então a campanha também foi irregular?] Foi, foi totalmente. [Quero dizer, se ele ganhou a eleição com a campanha irregular, não teria como impedir que isso acontecesse depois, não é verdade?] Exatamente. Por isso que eu estou falando pra você: sabe ou não sabe? É tudo uma uma máfia. Desculpa, mas quem não tá na máfia aqui sou eu e você, sabe por quê? Porque a gente precisa pagar pra poder trabalhar”.
Em nota, a prefeitura de Osasco disse que a administração do prefeito Rogério Lins é pautada pela moralidade e pela legalidade e que a Secretaria de Assuntos Jurídicos vai abrir uma sindicância pra investigar o caso.
Grace Aparecida Moreira, da Bellos, e Carlos Alfredo, da CPP, não retornaram as ligações da CBN. A reportagem procurou Willian de Martini, mas ele não foi encontrado.
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