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Festival de Cinema de Brasília busca retratar a diversidade brasileira

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A 52ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro vai até o dia 1º de dezembro, o evento movimenta a capital do país com mostras competitivas de longas e curtas, debates, oficinas e atividades de promoção de negócios na área.
Segundo a organização, o objetivo é retratar a força e a diversidade do audiovisual brasileiro. A mostra competitiva de longa traz sobras de diretores do Sul, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste. Entre as origens estão estados menos tradicionais no cinema brasileiro, como Mato Grosso e Paraná. Na disputa dos curtas, a variedade de origens dos realizadores também aparece, com representantes de todas as regiões.
O Festival conta ainda com uma mostra específica voltada a dar visibilidade à produção de diferentes locais, denominada Território Brasil. No total, 18 Unidades da Federação estarão representadas com concorrentes.
Segundo o curador do Festival, Marcus Ligocki Júnior, a seleção deste ano mostra a maturidade do audiovisual nacional.“Estamos em um momento em que o audiovisual está enfrentando um grande desafio, de se repensar nas suas estruturas e no financiamento. O Festival pegou pra si essa missão de mostrar que o Brasil inteiro produz hoje. Isso foi resultado de 20 anos de direcionamento de recursos, encorajamento dos realizadores. E o festival está colocando holofote sobre isso”, disse o curador à Agência Brasil.
Abertura

O ator homenageado da noite, Stepan Nercessian, durante a abertura do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – Wilson Dias/Agência Brasil

A cerimônia de abertura, que ocorreu na última sexta(22), manteve a tradição de postura ativa e crítica do público do Festival. Sob vaias e críticas acerca do repasse dos recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o secretário de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Adão Cândido, declarou que os instrumentos de fomento da secretaria serão usados para dar apoio neste momento que a Agência Nacional de Cinema (Ancine) ainda não definiu as ações de cunho regional.
Um dos homenageados na cerimônia foi o ator de longa carreira na televisão e no cinema Stepan Nercessian. Ele lembrou da relação com a capital por ter nascido na cidade goiana de Cristalina, a 130 quilômetros de Brasília. “Ser homenageado neste festival tem conotação ainda mais forte. Se o cinema brasileiro é feito de resistência e busca mostrar no rosto do povo brasileiro, este festival foi construído de resistência”, destacou.
A professora e antropóloga Débora Diniz foi agraciada com o Prêmio da Associação Brasileira de Cinema e Vídeo por seus filmes pela descriminalização do aborto. Ela não pode receber o prêmio pois saiu do país em razão de ameaças sofridas por pessoas que discordam de sua posição política. Em vídeo, afirmou que sua produção audiovisual é um ato luta e que o prêmio é uma lembrança a todas as mulheres retratadas em seus filmes.
Termômetro
O veterano cineasta brasiliense Vladimir Carvalho acompanhou a evolução histórica do Festival desde 1969 e vivenciou essa resistência. Para ele, o evento é um termômetro que traduz “as grandes vitórias, mas também os desacertos do cinema brasileiro”. Ao longo de sua trajetória, o evento vivenciou as transformações da conjuntura e do audiovisual brasileiro. “Já passamos por censura durante a ditadura. Eu tive um filme arrancado da mostra para colocar uma obra sobre futebol porque o Médici [Emílio Garrastazu] gostava. Todos esses eventos ao longo do tempo mostram que o Festival estava sintonizado com a cultura e com o Brasil. Esta mostra de agora é uma resposta a altura do momento que vivemos. Há um enfraquecimento da cultura brasileira”, ressaltou Carvalho à Agência Brasil.
Eventos

Abertura do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – Wilson Dias/Agência Brasil

Criado nos primeiros anos de Brasília, o Festival ocupa o tradicional Cine Brasília, na região central da cidade, mas também leva as exibições a outras regiões administrativas, como Samambaia, Planaltina e Recanto das Emas.
Além das competições de longas e curtas, há também outras mostras, como o Troféu Candango, a Mostra Brasília BRB de Cinema, a Mostra Paralela Novos Realizadores e o Festivalzinho. Estes concursos dão espaço para gêneros e públicos específicos, de cineastas da cidade a obras voltadas a crianças e adolescentes.
Mostras competitivas

Abertura do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – Wilson Dias/Agência Brasil

Na celebrada e concorrida mostra de longas, o festival mantém sua tradição de obras com temáticas críticas. O filme O Tempo que Resta, da cineasta brasiliense Thais Borges, aborda a história de duas mulheres residentes de locais na Amazônia, com trajetórias de enfrentamento de forças econômicas, uma contra grupos madeireiros e outra contra fazendeiros.
Em O Mês que Não Terminou, os diretores Francisco Bosco e Raul Mourão traçam um histórico recente do Brasil a partir das manifestações ocorridas em junho de 2013, chegando até a eleição do presidente Jair Bolsonaro, passando pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e pela disputa entre diferentes grupos políticos no país.
Debates e encontros paralelos
Ao longo de sua história, o festival cresceu e passou a abrigar uma série de eventos no seu interior. O Ambiente de Mercado reúne produtores e agentes do setor para criar conexões, compartilhar ideias e negociar projetos. Uma das atividades vai colocar curadores de festivais internacionais frente a frente com produtores, para que estes possam conhecer melhor as demandas desses eventos de outros países.
Outro projeto parte do Ambiente de Mercado é a exibição de filmes não finalizados com curadores para que estes possam identificar obras com potencial. Também serão realizadas rodadas de negócios entre cineastas e agentes de mercado visando a apresentação de projetos que possam ser licenciados por companhias da área.
Outro é o Encontro do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro. Nesta edição, haverá um painel em alusão ao centenário do cineasta Watson Macedo e exibido um filme dele, Aviso aos Navegantes. O Centro também oferece o Prêmio Marco Antônio Guimarães, voltado à produção que utiliza registros históricos e material de pesquisa sobre o cinema brasileiro.
Edição: Liliane Farias

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