Segundo dia de paralisação na saúde do Rio é marcado por manifestações
No segundo dia de paralisação por conta de salários atrasados, servidores terceirizados da área de saúde do município do Rio de Janeiro promovem hoje (11) uma série de manifestações em diversos pontos da cidade. Agentes comunitários de saúde, farmacêuticos, técnicos de enfermagem, entre outros profissionais, estão sem receber desde outubro. Desde ontem (10), eles mantém em funcionamento nas unidades de saúde mais afetadas pela falta de repasses de verbas apenas o mínimo para o atendimento de casos mais urgentes.
À Agência Brasil, os servidores dizem que não têm condições financeiras nem mesmo para chegar ao trabalho ou para comprar comida. “A situação está crítica, a gente não tem condição nenhuma de trabalhar. A gente não tem mais dinheiro para ir para o trabalho. A gente só quer o nosso salário”, disse a farmacêutica Ana Paula Beto. “As coisas estão muito complicadas, estamos sem medicamentos para dispensar para a população, estamos sem salário, sem benefício de vale-transporte, de vale-refeição, tem gente passando fome em casa”.
Pela manhã, houve manifestações em frente à Coordenação de Emergência Regional (CER) Leblon, ao lado do Hospital Miguel Couto, na zona sul do Rio; no Hospital Municipal Albert Schweitzer em Realengo, na zona oeste da cidade; e próximo ao Gata de Irajá, situado próximo à Avenida Brasil, na zona norte.
À tarde, os trabalhadores se concentraram em frente ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RJ) para acompanhar a audiência de conciliação relativa ao dissídio coletivo da greve, que foi suspensa e continuará amanhã. Com cartazes, faixas e gritos de guerra, os trabalhadores pediram o pagamento dos salários.
“Minha vida está parada porque dependo do pagamento do salário para pagar as contas, estou com juros acumulados. Para quem não tem família para ajudar, está tudo muito ruim, está péssimo. Desde outubro não recebemos”, diz a agente comunitária Maria Ribeiro, que participou da manifestação no TRT.
Carta à população
Na segunda-feira (9), os profissionais publicaram uma carta à população carioca, na qual dizem que mais de 20 mil profissionais de saúde convivem com o atraso salarial desde outubro e com a falta de condições adequadas de trabalho. Os mais afetados são aqueles contratados por Organizações Sociais (OSs) e organizações não governamentais (ONGs), que recebem recursos da prefeitura para administrar unidades de saúde.
Os funcionários terceirizados da rede municipal decidiram então paralisar os serviços de atenção básica, que engloba clínicas da família e centros municipais de saúde, por 48 horas, até esta quarta-feira. Nos hospitais administrados por OSs, o atendimento ficou restrito a 30% do contingente dos profissionais.
Apenas casos mais graves estão recebendo atendimento nesses locais. Os demais pacientes estão sendo encaminhados para outras unidades. Maria Áurea Duarte, 69 anos, foi ao CER Leblon com falta de ar, buscando atendimento. Ela foi informada que isso poderia demorar até 12 horas. “Eu tive um derrame pleural. Fizeram uma pulsão para retirar água do meu pulmão. Pediram exames. Eu não consegui fazer pela rede pública, demorou demais. Acabei pagando os exames. Há cinco dias estou com o resultado e não consigo mostrar para nenhum médico”, diz.
Com uma crise de bronquite, Carlos Alberto Silva, 47 anos, buscou atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Rocinha, na zona sul. “Não me atenderam, falaram que atenderiam apenas emergências. Eu acabei indo para casa. Achei que fosse melhorar, mas não melhorei”, diz. Três dias depois, ele precisou ir até a UPA Botafogo para conseguir ser atendido. “Eu vejo uma grande irresponsabilidade dos governos. Acho que saúde é prioridade, deveriam olhar o povo”.
Antônio Igwe, 42 anos, também foi encaminhado a UPA Botafogo após não conseguir atendimento para o filho, Yohaness, 11 meses, em uma clínica da família. “Ele está tossindo, com nariz entupido e febre. Não está conseguindo respirar direito. Fomos na clínica e lá não tem atendimento. O cidadão sai sempre prejudicado de alguma forma”.
Crivella
Pelas redes sociais, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, anunciou nesta tarde que irá pagar os salários dos funcionários. “Amanhã vai estar na conta os salários de todos os 5 mil agentes de saúde das clínicas de família e dos técnicos de enfermagem”, disse. Ele acrescentou que irá liberar R$ 36 milhões para custeio do Hospital Municipal Albert Schweitzer e do Hospital Municipal Pedro II.
Edição: Fábio Massa