Símbolo do Carnaval carioca, bloco Cacique de Ramos é atacado por usar fantasia de índio
A escolha da atriz Alessandra Negrini, que comandou o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta no último domingo, em São Paulo, reacendeu uma polêmica que tem repercutido nas redes sociais nos últimos carnavais. Com um adereço na cabeça semelhante a um cocar e pinturas tradicionais indígenas pelo corpo, a atriz foi acusada de desrespeito por usar uma etnia como fantasia.
E a polêmica respingou em um dos mais tradicionais blocos do Rio de Janeiro, o Cacique de Ramos, que desfila desde a década de 60 com os integrantes vestidos com trajes de povos indígenas americanos e brasileiros.
A diretoria do Cacique chegou a emitir uma nota oficial dizendo que desconhece como a manifestação contra o bloco começou, mas que respeita o debate identitário. Apesar disso, defende que tem uma longa trajetória, iniciada por integrantes com nomes indígenas e ligados à umbanda, o que explica a homenagem aos caciques.
Além disso, o bloco alega que sua identidade visual traz uma miscelânea de referências, e que permanece como um polo de resistência no subúrbio do Rio, além ter escrito uma página importantíssima na cultura popular carioca.
Mesmo sem toda essa bagagem, a atriz Alessandra Negrini também foi defendida pela Associação dos Povos Indígenas do Brasil, que a chamou de aliada a serviço de uma causa urgente, já que a triz queria chamar a atenção para os possíveis retrocessos que podem vir de projetos que estão sendo discutidos no Congresso Nacional. De acordo com a associação, a pintura de Alessandra, inclusive, foi feita por um artista indígena.
O assunto também já mobilizou as instituições. No ano passado, a Defensoria Pública do Ceará publicou uma cartilha com diversas orientações sobre como se fantasiar sem ofender ninguém. Com a polêmica, o material voltou a circular na internet. Além de dizer que etnias como os povos indígenas e os ciganos não são fantasia, a campanha também defendeu que o hábito de pintar a pele de preto para se fantasiar de pessoas negras ou usar roupas femininas para se fantasiar de mulher ajudam a construir uma imagem depreciativa e estereotipada dessas pessoas.
Este ano, quem entrou nessa seara foi a prefeitura de Belo Horizonte. O Conselho Municipal de Igualdade Racial divulgou uma série de orientações para um carnaval sem racismo, condenando também o uso de perucas que imitem o cabelo crespo e canções famosas como Mulata Bossa Nova, que ressaltam a sexualidade da mulher negra.