Após isolamento, Eduardo Cunha para de fazer declarações
Embora sejam incertos os rumos das articulações partidárias a serem feitas até o final de agosto e mesmo diante da confirmação por parte de praticamente todos os partidos de que a situação política e institucional do país precisa ser avaliada com cautela, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), iniciou a segunda-feira (20) ainda mais isolado do que se encontrava na tarde da sexta-feira (17).
Cunha, que sempre se vangloriou de contar com o apoio de um grupo de cerca de 120 deputados que o elegeram para o cargo, anunciou em alto e bom tom o rompimento com o governo, três dias atrás, mas só recebeu apoio formal de Marco Feliciano (PSC-SP) e Paulo Pereira da Silva (SD-SP).
Hoje aumentou não apenas o número dos que criticaram sua atitude como o tom das declarações de parlamentares considerando como melhor saída para ele o seu afastamento da presidência da Câmara.
Primeiro foi o Psol, que na sexta-feira divulgou uma nota em nome de toda a bancada destacando que para existir segurança institucional na Câmara após o recesso, era importante que o presidente se afastasse para serem apuradas todas as denúncias contra ele. A mesma opinião foi defendida pelo líder da minoria, Sílvio Costa (PSC-PE).
Esta manhã, reforçaram o coro o PPS, o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) – um dos fundadores do PMDB – e o ex-ministro e deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).
Vasconcelos foi um dos mais firmes nas suas colocações. Destacou que, a seu ver, deveria ser feito um afastamento imediato do presidente da Câmara, acusado de ter recebido uma propina de R$ 5 milhões pelo lobista Júlio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato. “Essa situação é extremamente complicada para a Câmara e para ele. Fica imensamente complicado o presidente permanecer. Não custa nada deixar o cargo temporariamente”, sugeriu.
O deputado, embora lembrando que faz oposição ao governo Dilma Rousseff, considerou a postura de Cunha de rompimento “oportunista” e classificou as denúncias contra ele como “extremamente graves”.
Utilidade
Miro Teixeira lembrou que toda denúncia precisa ser apurada e que, por enquanto, não existe nada que condene o deputado, mas enfatizou também que seria bom se ele resolvesse se afastar do cargo, para que houvesse apuração de tudo, caso as provas caminhem ainda mais nos próximos dias. Teixeira chegou a usar uma frase emblemática: “Seria útil se ele (Cunha) renunciasse”, disse.
O PPS anunciou que pedirá formalmente, por meio da deputada Eliziane Gama (PPS-MA), a realização de uma acareação entre Eduardo Cunha e o delator da Operação Lava Jato que o acusou na última semana, o lobista Júlio Camargo.
A acareação já tinha sido ameaçada de ser solicitada pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS). Significa, para vários deputados, uma forma de humilhar o atual presidente da casa. Mas se além da solicitação da deputada for feita também a de Fontana e entrarem na pauta outros pedidos semelhantes, vai ficar difícil para os deputados explicarem os motivos pelos quais não vão realizar tal acareação.
Enquanto o circo pega fogo, o presidente achou melhor se calar, evitou a imprensa e não repercutiu nenhumas dessas declarações. Enquanto o PMDB tenta recolher os cacos de toda essa confusão. O ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), que trabalha junto com o vice-presidente Michel Temer na missão de tentar unir o partido, afirmou que está atuando para “harmonizar” as relações entre o governo e Cunha.
Segundo Padilha, o deputado tomou a decisão de forma pessoal, mas ocupa uma posição na qual “o interesse da nação deve prevalecer”. Disse que é com base nessas premissas que pretende convencê-lo a ter um discurso mais moderado.
“Os fatos acabam sendo ditados pelas circunstâncias do momento”, destacou Padilha, acrescentando que “ para quem chega à chefia de um dos poderes é parte da sua bagagem essa compreensão de que os interesses maiores da nação se sobrepõem. Cada dia com a sua agonia”, disse Padilha. Resta saber se o próprio Eduardo Cunha vai concordar.
Por RBA