Poesia: Osasco no poço com sorriso no rosto
Por Lívia Gouvêa – Me dizem abençoada porque poesia é o jeito mais bonito de transparecer.
Mas tudo que enxergo, penso, grito, digo e repito é sempre tão mudo e opaco quanto o mais duradouro silêncio que sou obrigada a adotar.
Obrigada porque resido numa cidade onde réu e rei, onde a juventude dita revolucionária está em constante guerra contra ela mesma, onde se escondem verdades e se promovem injustiças.
Uma cidade cujo cenário faz tempo não muda. Obrigada porque a doença do cálice se prolifera junto aos pombos, acabando com os cidadãos de boa intenção de dentro para fora. E nós tentamos lutar pelo certo e pelo justo, só que se esgotam as forças.
Esgota o bom senso, aumentam os buracos. Os buracos do nosso asfalto e os buracos da nossa razão, que enquanto move as mãos pela cidadania, é golpeada para mover os pés pelo jogo sujo.
O pior é quando nós, cidadãos, acreditamos na ordem e vemos tantos outros de nós a favor do caos. E enquanto tentamos abrir olhos alheios, acabamos fechando os nossos próprios. E falo de Osasco. Cidade que abriga pessoas que têm orgulho do título de osasquenses, mas não são permitidas a enxergar além disso.
Nos bastidores das nossas ruas, dos nossos vários shoppings, das nossas obras e tudo que nos cerca, existe uma rede de negociações que não inclui de forma integral a democracia. E a esmagadora maioria de nós está de acordo com tudo isso, porque não consegue mais discernir o viável do ridículo.
A luta está sendo enfraquecida pelo próprio povo. Registro aqui meu enorme apelo subjetivo para nos juntarmos, para a cortina nebulosa se dissipar. Vamos conversar.
“Esperar pra ver” menos para diminuirmos a chance de afundarmos Osasco no poço com sorriso no rosto.
Por Lívia Gouvêa
Publicado inicialmente no PlanetaOsasco.com