Opinião: professor MARCO AURÉLIO
Eu compreendo muitos sentimentos no Brasil. Isso não quer dizer que eu aceite posições antagônicas às minhas. Meus alunos jovens estão sem esperança no futuro. Na verdade, não conhecem as atrocidades, a ausência de democracia e os enormes erros da Ditadura Militar. Enquanto isso, muitos do mundo da política tentam dourar a pílula, como se tudo se resolvesse assim: dizer que vender tudo o que é público resolve tudo. Não é verdade. Basta a gente ver a situação da Argentina. Seguir a receita do Consenso de Washington não foi – definitivamente – a melhor ideia. Aliás, foi a pior das ideias.
Meu país não foge muito disso. O atual presidente, que muitos querem FORA. E acho que estão certos, deu um golpe, com apoio do Centrão, do PSDB, de alguns poucos sindicatos, da mídia tradicional e congelou os gastos, pensando ser a solução de tudo. Não foi. Outro dia ouvi um renomado médico na CBN dizer que na saúde gasta-se muito com novas tecnologias e que, por isso, é impossível congelar gastos. Arrochar salários das pessoas é uma velha prática das nossas elites.
Eu compreendo, mas não quer dizer que aceito. Quero um país onde as pessoas se orgulhem e não precisem prender um líder para ganhar uma eleição. Nossa história está cheia de tentativas das elites em fazer eleições só para formalizar momentos. Tentaram impedir Getúlio Vargas em 1950. E impediram Juscelino e Lacerda em 1965. Nos anos 60, os militares cancelaram as eleições presidenciais de 1965 e cassaram os dois principais candidatos a presidente por dez anos, através do famigerado AI-5.
No domingo que vem estarei escolhendo meus candidatos. Escolhi o presidente que é professor, toca violão e foi um dos melhores prefeitos da história de São Paulo. Escolhi o senador de São Paulo, que canta e tem dois filhos cantores. Para Deputados Federal e Estadual, escolhi uma mulher filha de índio e o ex-prefeito de Osasco. Para Governador e segunda vaga de senador vou de PT também.
Mas o que eu gostaria de falar é do movimento ELE NÃO. Foi lindo ver as grandes cidades do Brasil e do mundo reunindo muitas mulheres e homens também para afirmar ELE NÂO, como escreveu a Revista PIAUÍ, quem ficou esperando notícias na tevê, não viu nada; as tevês apenas divulgaram burocraticamente o movimento pelo mundo e no Brasil. A Globo fez igual nas manifestações das Diretas Já. Como disse a ABI, aquilo que as tevês fizeram não foi jornalismo imparcial, divulgaram também reduzidas manifestações a favor… Posso dizer, que foi estranho colocar tudo no mesmo balaio, para não dizer revelador.
Como há mais de 200 milhões de celulares no Brasil, foi possível ver tudo pela internet e pelo watts. Foram milhões de pessoas pelo Brasil e Europa gritando ELE NÃO. Não é possível que as pessoas não percebam que algumas opções não darão certo nunca. Mesmo que a gente não goste de um partido, por não querer democracia participativa. Precisamos olhar o país para todos e nunca a partir, apenas, do nosso umbigo.
Acabei de ouvir no rádio uma música do Roberto Carlos, cantada pelo Chico, que entre outras coisas, diz assim: “Olha, você tem todas as coisas, que um dia eu sonhei pra mim”. “A cabeça cheia de problemas, não me importa, eu gosto mesmo assim. Tem o rosto cheio de esperança, que um dia eu sonhei pra mim”. Acho que esse deva ser nosso lema para o país.
Marco Aurélio Rodrigues Freitas é Jornalista, Biomédico, Historiador, Professor das redes municipal e estadual de São Paulo. Escreve suas crônicas todas as semanas no Planeta Osasco.