Coluna – O que você faria se fosse o técnico Jorge Jesus?
O nome de Jorge Jesus começou a circular no Brasil, mais exatamente no Rio de Janeiro, em abril de 2019. O então diretor de futebol do Vasco, Alexandre Faria, conversou com o treinador para trabalhar em São Januário. O Mister, naquele momento, era conhecido pelos resultados obtidos à frente do Benfica e estava sem emprego, após não renovar contrato com o Al Hilal, da Arábia Saudita.
O acordo não aconteceu, o Flamengo procurou o técnico e deu um tiro mais do que certeiro. Com um elenco que também se encaixou com perfeição, Jesus levou o Rubro-Negro aos títulos do Brasileirão e da Copa Libertadores, num único fim de semana. E repetiu algo que só o Santos de Pelé, nos anos 60, conseguiu. No total, conquistou cinco títulos e deixou o clube com apenas quatro derrotas em sua passagem. Sem dúvida alguma uma passagem marcante, que justifica a postura de torcedores querendo a volta dele.
E aí está a questão: se você fosse o Jorge Jesus, colocaria em risco essa imagem de ídolo? Vale a pena voltar, ciente de que os resultados de 2019 dificilmente se repetirão, ainda mais se pensarmos que aquela dupla conquista só havia acontecido 56 anos antes? Ou, como defendem alguns, um esportista sempre busca novos desafios?
No último domingo (17), no programa No Mundo da Bola, fizemos esse questionamento na pesquisa da semana e os telespectadores responderam, em sua maioria, que JJ não voltaria ao Brasil, com 44% dos votos; outros 16% disseram que ele deveria retornar, mas para outro clube ou até mesmo para a seleção; e 40% acreditam que o melhor seria o regresso ao Flamengo.
As últimas informações dão conta de que ele teria recusado convites para voltar. É o que dizem, não posso garantir que assim tenha sido. Mas podemos fazer um exercício de memória com aqueles que voltaram para tentar repetir um grande sucesso. Na seleção tivemos três casos: Vicente Feola, campeão de 58 e derrotado em 66; Zagallo, em 70 e 98, respectivamente; Felipão em 2002 e 2014, nesse último caso ao lado de Parreira, campeão em 94. O Cuca, no Atlético-MG, não teve um ano decepcionante em 2021, com os títulos do Brasileirão e da Copa do Brasil, mas o grande objetivo, que era a Libertadores – que ele havia conquistado com o Galo em 2013 -, não foi alcançado. Evidente que há exemplos positivos, mas nessas horas é sempre bom fazer o contraponto.
Se eu fosse o Jorge Jesus, não voltaria ao Flamengo. Mas como somos pessoas totalmente distintas, não posso garantir que essa também seja a opção dele. Mas fico pensando no que aconteceria caso o Rubro-Negro, com ele no comando, perdesse a quinta partida, superando, para pior, o desempenho da passagem anterior.
Dizem os defensores que Jorge Jesus tem um currículo excelente e que isso o credencia para a volta, que deve ser levado em conta e mais e mais. Volto a pensar em outras situações: quem era Abel Ferreira quando o Palmeiras o procurou em 2020? Era visto como um destaque da nova geração de técnicos portugueses, que veio no embalo dos resultados de JJ e tendo, no currículo, números expressivos no comando do Braga, no Campeonato Português, e um vice-campeonato grego à frente do PAOK.
Jesus e Abel foram duas jogadas arriscadas, que deram muito certo. Outras tantas foram feitas, com outros técnicos portugueses, e de outras nacionalidades, que não tiveram o mesmo final feliz. Se, como se diz, o futebol é uma caixinha de surpresas, será que um presente repetido causaria o mesmo impacto ou se transformaria em decepção?
Cartas para à redação!
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil
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