Memória: Jornal O Grande Osasco/1980.
Mudanças
Site”Rio Pequeno in São Paulo”: Jéca e a Égua Milagrosa’ foi o último filme de Mazzaroppi – 1980.
Ele morreria no ano seguinte, 1981.
Do tempo em que se sujavam os pés quando chovia e se reclamava da poeira quando o sol sorria demais.
Do tempo em que se podia sentar no banco da calçada à frente do muro e olhar o céu, tentando decifrar as figuras que as nuvens formavam entre as estrelas.
Do tempo em as crianças corriam e brincavam sem perigo na rua e nós, apesar de termos hoje tanta gente em nossa volta, não sofríamos de solidão.
Tudo isso nos faz pensar numa cidade pequena com festas, quermesses e domingo na praça e, se exagerarmos um pouco, poderíamos encontrar com seu fundador na missa das oito horas, domingo pela manhã.
Domingo de bocha, domingo de futebol, domingo de conversar com os compadres e levar a mulher e as crianças para brincar no parque, comer pipoca e algodão doce.
Mas a cidade agora é diferente, nem parece mais a mesma, ela é a cidade trabalho. Já não se tem tempo para olhar o céu ou viver tanto o domingo. Ainda tem bocha, futebol, pipoca e algodão doce, mas também tem supermercado, cinema e shopping center.
A vida toda mudou. Já não se suja o pé de barro ou de poeira. Temos outros problemas. Agora, a gente reclama do asfalto e da poluição. Os habitantes agora são muitos, se contam aos milhares, não se reconhece tanta gente na rua, pois o anonimato é cada vez maior. As conduções são muito rápidas e cheias, não nos dando tempo ou motivo para conversar. O que se quer é chegar em casa e descansar.
A cidade cresceu e com ela a distância entre as pessoas. Temos indústrias e ruas comerciais. O tempo nos trouxe a evolução e com ela um caminho diferente do qual não se pode fugir. Deveremos, sim, não esquecer as lições de vida que a poesia e os rostos da velha cidade nos deram. Se transportarmos elementos tão importantes para o nosso cotidiano, aliados às facilidades que este caminho nos trouxe, a chuva, o vento e o frio parecerão mais sinceros. Então, a gente vai poder parar e conversar novamente.
Texto publicado no jornal O GRANDE OSASCO, em março de 1980.
Terminal do Largo de Osasco hoje, ao lado da Estação da FEPASA Osasco.
Marco Aurélio Rodrigues Freitas é jornalista, historiador, biomédico e professor das redes municipal e estadual de São Paulo. Escreve todas as semanas no site Planeta Osasco.
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